O mapa do mundo

Era uma vez um reino muito distante. Ficava numa região muito, muito fria e quase inacessível. Nele, havia um castelo imenso, decorado com tesouros do chão ao teto, até mesmo nas mais altas torres. Por toda parte viam-se colunas de mármore de todas as cores, paredes com tapeçarias raras e salpicadas de pedras preciosas, portas de ouro e pinturas ornamentais que cobriam tetos e paredes. Toda essa riqueza pertencia a um rei, que dela nem tomava conhecimento. Seu maior desejo era conhecer o mundo e tudo o que ele poderia lhe oferecer. Mas uma doença muito rara e incurável o mantinha preso ao leito, impedindo-o de viajar.

Por isso, mandou chamar todos os sábios do reino e lhes ordenou que colocassem num mapa, desenhado com precisão, todos os detalhes do mundo que ele não podia ver nem provar. E o rei tinha pressa, muita pressa.

Reuniram-se, então, os homens e mulheres mais capazes e estudiosos para compor esse mapa tão desejado. Buscaram nos livros o saber dos antepassados, observaram a realidade à sua volta, enviaram mensageiros em viagens de pesquisa. Aos poucos, chegavam informações de todas as partes do mundo conhecido. Novos sábios vieram juntar-se aos primeiros. Assim, jovens e velhos, falando os mais diversos idiomas, conhecedores dos mais estranhos sinais e acontecimentos trabalhavam dia e noite, noite e dia, para atender à ordem e à pressa do rei. Compilaram, organizaram, traduziram, escreveram, desenharam. Com eles, o mapa ganhou formas mais definidas e detalhes mais enriquecidos. Para surpresa de todos os sábios, enquanto construíam o mapa, também descobriam e aprendiam sobre realidades inimagináveis.

Apesar do estudo e do esforço, o mapa continuava lacunar, incompleto, estático.

Então, os sábios pediram o auxílio de todos os artistas: músicos, pintores, atores… Cada um trouxe sua experiência e saber para a construção do mapa, que crescia em tamanho e formosura.

Lagos de águas azuladas, montes de cumes brancos e elevados, vales verdejantes, rios de águas límpidas, aldeias e cidades. O mapa coloria-se em todas as gradações e nuances. As curvas das montanhas desenhavam o horizonte, mas logo adiante eram substituídas por praias sem fim e o horizonte ampliava-se ao infinito. Brilhavam no pergaminho do mapa as estrelas do céu refletidas nas águas dos lagos e rios. No tapete dos vales vibravam multicoloridas plantas e flores. As florestas abundantes cobriam terras férteis. A areia monocromatizava a vastidão dos desertos.

Para que fosse corrigida a imobilidade do mapa, matemáticos e físicos criaram um mecanismo, resultante de cálculos complexos, que fazia o artefato movimentar-se e, com ele, os animais e a natureza ganharam ritmo, sons e deslocamentos.

Todos os que se aproximavam daquele portento da criação humana, ficavam admirados com sua beleza, realismo e grandiosidade.

Quando o consideraram acabado, os sábios construtores o levaram até o rei que, ao vê-lo, comoveu-se com a variedade e precisão dos detalhes, e com a engenhosidade do movimento.

Porém, passado o encanto inicial, e aos poucos, o rei voltou a sentir-se triste e doente. Faltava ao mapa algo que não conseguia definir. O mapa era apenas representação, simulacro incompleto do mundo extraordinário que existia em sua imaginação.

Ao saber da reação e do estado doentio do rei, o mais jovem aprendiz de um dos sábios, que viera de longes terras, se aproximou do mapa, desenhou toscamente uma figura humana e acionou o mecanismo.

Ouviu-se, então, o som da primeira palavra. O mapa ganhou, enfim, vida completa. O mundo fez-se significação.

E o rei morreu em paz.

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