A preocupação com o ethos no Programa de Ensino Religioso justifica-se pela estreita relação existente entre comportamento e tradição religiosa. Se educar é o processo de abertura do ser humano para se compreender, então se torna impossível pensar o humano separando-o de sua dimensão de transcendência, pois o conhecimento que emancipa o ser humano não é apenas de natureza científica. É no interior da experiência religiosa que o ethos, modo de ser das coisas e das pessoas, tecido vivo de relações e inter-relações entre elementos da cultura, da tradição e da religião que formam e constituem a estrutura explicitativa e significativa do ser, e como fonte do dever para o agir moral do ser humano, encontra sua expressão mais autêntica, antiga e universal.
Cada cultura apresenta uma forma (interior) particular, própria e característica de ver o comportamento humano e conceber o mundo. Diferentes cosmovisões representam formas diversas de conceber, ser e agir segundo o âmbito em que cada um se move. Assim, as várias maneiras de ser e as formas diversas de se pôr constituem os diferentes ethos existentes. Tanto nos sistemas culturais quanto nas tradições religiosas existem diferentes verdades e diferentes caminhos de salvação. Caso o ethos não venha a ser acolhido e respeitado como tal, o ensino religioso poderá oscilar entre o moralismo e o espiritualismo, isto é, ou se aplicará o código moral de uma tradição ou se anulará a experiência histórica das tradições. O ethos é, assim, em um tempo, meta e método, fim e meio. Ou seja, o ethos constitui tanto ponto de partida quanto ponto de chegada. Desse modo, as expressões religiosas concretas existentes emergem como valor constituinte e ação significante da condição humana.
Sem uma perspectiva ética, a vida humana carece de unidade, tornado-se conflituosa em relação à necessidade de se estabelecer uma ordem de prioridades e de se organizar a prática do bem comum. Por isso, conforme a tradição aristotélica, a prática das virtudes torna-se fundamental. Inexiste, pois, processo educacional que não comporte transmissão de valores, desenvolvimento de atitudes, alargamento da consciência a respeito de direitos e deveres para consigo e para com os demais, isto é, deveres para com a humanidade.