O dia do lápis

Dia desses um colega que exercia o cargo de coordenador da área de Educação Física de uma escola particular de Curitiba me contou que decidira não atuar mais em instituições de ensino. A notícia me causou surpresa e curiosidade.

Surpresa por saber da paixão com que ele exercia sua atividade. Curiosidade por querer saber os motivos que o levaram a tal decisão, tendo em vista que considero o papel dos professores de Educação Física fundamentais na estratégia de marketing das escolas. São eles que têm a possibilidade de acompanhar mais de perto o desenvolvimento integral dos alunos pelo tipo de contato que estabelecem, e são fundamentais para ajudá-los a perceber a importância e o valor da educação.

Dos diversos motivos apresentados pelo colega em questão para a decisão tomada, um me chamou a atenção. Além das diversas atividades ligadas diretamente às questões da área de Educação Física, ele era responsável pela organização dos eventos festivos realizados na escola, e resumiu o seu sentimento com a seguinte frase: ?Estou cansado de organizar eventos. Só falta organizar o Dia do Lápis!?.

Além de me solidarizar com um colega de trabalho que sentia que seu conhecimento e sua experiência profissional estavam sendo usados de forma inadequada, eu senti que seu desabafo dizia mais: eventos em excesso perdem o sentido e deixam de cumprir sua função.

Eventos e festas são muito importantes do ponto de vista de marketing. Neles escola, alunos, pais e comunidade interagem de forma significativa, em geral por motivos positivos, alegres e descontraídos. Os pais podem conhecer os amigos de seus filhos e os pais deles, os alunos podem trazer seus amigos de outras redes de relações para interagir com seus amigos da escola. É também o momento que parte daquilo que é produzido no cotidiano da escola é mostrado à sociedade e pode ser avaliado por ela, mesmo que parcialmente.

Em virtude dessas características, os eventos podem e devem ser usados de forma persuasiva, sendo direcionados especificamente para influenciar a percepção de valor e a elaboração das expectativas em relação à escola. Para tanto é necessário, antes de tudo, que sejam significativos e que tenham sentido para as pessoas que deles participam. Em uma palavra, além de serem momentos importantes de descontração e de diversificação na forma de contato entre as pessoas, os eventos têm que ajudar a melhorar a qualidade do serviço educacional como um todo, bem como a percepção que as pessoas têm dela.

Minha experiência de longos anos participando desses eventos como pai, professor, gestor de marketing e convidado me proporcionou algumas reflexões que compartilho aqui na forma de sugestões de como pensar e executar os eventos de uma escola.

Estabeleça uma relação clara e consistente com a comunidade na qual a escola está inserida. Isso atrai, cria interesse, amplia a rede de relações da escola e cria vínculos mais duradouros. De forma prática, quando isso ocorre, um evento é capaz de até mesmo mobilizar os meios de comunicação, tornando-se também uma fonte geradora de publicidade.

Mantenha o foco na importância do fato gerador do evento e nas interações entre as pessoas que dele participam. Para que um evento seja brilhante e possa ?iluminar? a imagem da sua escola, quem deve brilhar são os alunos e as pessoas que dele participam.

Esse brilho só é atingido quando são valorizadas as relações entre as pessoas e o papel delas na realização do evento. Já participei de muitas festividades escolares onde o colorido dos balões ressaltava o desânimo e o desinteresse de professores, funcionários, alunos e familiares.

Todos os eventos devem ser concebidos com o intuito de transmitir uma mensagem e proporcionar experiências valiosas para quem deles participe. Do contrário será apenas mais um Dia do Lápis.

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