O novo meio de comunicação que surgiu da interconexão mundial dos computadores é chamado ciberespaço, palavra que teve origem no momento em que o escritor W. Gibson percebeu, enquanto observava garotos jogando videogames, que jogador e máquina faziam parte de um universo virtual. (Charlab, 2003). Também chamado de rede pelo filósofo francês Pierre Lévy (2000), não significa somente a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também “o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo”. Uma das atrações do ciberespaço é a Internet, que permite o compartilhamento de informações, de recursos computacionais e de banco de dados.

A revolução da conectividade começou em 1957, quando a União Soviética colocou em órbita o Sputnik. Após quatro meses, o presidente americano Dwinght Eisenhower anunciava a criação da ARPA-Advanced Research Projects Agency, que recebeu a missão de pesquisar e desenvolver tecnologias para as forças armadas visando garantir as comunicações governamentais se houvesse um ataque nuclear.

No Brasil, a história do acesso à internet teve início pela RNP-Rede Nacional de pesquisas em 1990. Ligava as principais instituições de ensino e órgãos governamentais. Em 1993, foram removidas as restrições que os privilegiavam, porque os custos de manutenção chegaram a um patamar elevado e porque empresas e indivíduos reclamavam pelo mesmo direito. Surgiu a internet que abrange grande quantidade de informações em aproximadamente 600.000 milhões de páginas digitais, sendo adicionadas 7,5 milhões de novas páginas diárias. (Garcia, 2003).

Em fevereiro de 2002, por exemplo, o volume movimentado pelo varejo on line foi de R$ 431,1 milhões, o que representou aumento de 29% em relação ao mês anterior (IDG Now, 2003). O Paraná comanda o terceiro maior pólo de e-commerce do Brasil, ficando atrás de São Paulo e Rio de Janeiro, conforme relatório da revista Info-Exame (maio 2003).

Apesar de ser o sistema mais democrático de comunicação que o ser humano criou, a realidade mostra que o alcance da rede não é tão global, pois nos países emergentes a melhora dos meios tecnológicos não é uma prioridade diante dos problemas de alimentação e de alfabetização. A realidade é que o mais desenvolvido sistema tecnológico continua dependendo energeticamente dos combustíveis fósseis, como o petróleo, que provocam chuva ácida e poluem o ar, e da energia nuclear, cuja radiação associada à eletricidade provoca câncer e outras doenças, os quais continuam sendo os recursos vitais que mantêm a economia e a sociedade global.

O modelo de desenvolvimento da sociedade industrial, que está na origem da crise atual, não é solução. A chave do sucesso das novas tecnologias está em sua capacidade de proporcionar o conhecimento das soluções necessárias e tirar o planeta da exaustão dos recursos naturais em que se encontra.

Utilizando a terminologia do antropólogo Marcel Mauss, é preciso considerar a internet como fenômeno social total, que significa a integração dos diferentes aspectos (biológico, econômico, jurídico, histórico, religioso, estético e ecológico). “É necessário entender a relação que se estabelece entre a internet e a sociedade de maneira dialética, o que permite a criação e o desenvolvimento da rede, ao mesmo tempo em que produz transformações substanciais na cultura, na economia da sociedade que a criou” (Navarro, 2003) e no ecossistema (meio ambiente).

A situação de crise só será solucionada se o informacionismo, que está ligado ao rejuvenescimento do capitalismo, conseguir elevar o rendimento dos recursos naturais, se oferecer alternativas de utilização de novas fontes energéticas e se apresentar um modelo de desenvolvimento que administre, além da informação, a matéria e a energia para dar sustentabilidade ecológica ao planeta.

Se Leonardo da Vinci (1452-1519) disse, no século XVI, que chegaria um dia em que os homens conheceriam o íntimo dos animais, e, neste dia, um crime contra um animal seria um crime contra a humanidade, no século atual se poderia dizer: chegará um dia em que o indivíduo conhecerá seu próprio íntimo e, neste dia, um crime contra a natureza, da qual ele faz parte, será um crime contra o universo.

Zélia Maria Bonamigo é jornalista, especialista em Mídia e Despertar da Consciência Crítica. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. E-mail:

zeliabonamigo@uol.com.br
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