O bicentenário de nascimento de Allan Kardec

Conforme a questão 573 de O Livro dos Espíritos, todos têm uma a missão a cumprir na Terra. Até em meio às árduas vicissitudes escolhidas ou impostas pelas condições provacionais ou expiatórias que caracterizam o planeta, alguns comprometimentos podem se revestir de caráter especial. Por exemplo, a criação e educação dos filhos ou o simples lavrar a terra. “Há missões mais restritas, mais pessoais e locais” e as de “instruir os homens, ajudar seu progresso, melhorar suas instituições” assim “elas são mais ou menos gerais e importantes”. Dentre as últimas podemos mencionar as atividades de todos os que apresentam potencialidade para contribuir socialmente, seja no terreno político, cultural, filosófico, religioso, científico, da benemerência, nas artes em geral. Missionários especiais foram os grandes líderes mundiais, Moisés, Gandhi, Buda, Krishna e acima de todos, Jesus.

Nesta galeria tem assegurado lugar de destaque o professor francês Denizard Hippolyte Léon Rivail, nascido a exatos, hoje, 200 anos, em Lyon, França. Por humildade e desprendimento da principal obra que desenvolveu, preferiu não ligar seu nome à mesma e adotou o pseudônimo de Allan Kardec, usado, segundo revelação do Espírito Zéfiro, em reencarnação anterior quando fora sacerdote druida entre os celtas. Também foi informado ter sido vítima da Inquisição na personalidade do reformador John Huss (1369-1415) que viveu em Praga.

Denizard foi discípulo e Pestalozzi em Yverdun, na Suíça, onde adquiriu boa parte fabulosa bagagem intelectual. Conhecia o alemão, inglês, italiano, espanhol e holandês. Até 1854 escreveu 22 obras didáticas, algumas adotadas pela Universidade Francesa. Bacharel em Ciências e Letras, professor do Liceu Polimático e membro de institutos como a Real Academia de Ciências Naturais, fundou o Instituto Técnico de Paris. Criou cursos gratuitos de Química, Física, Anatomia Comparada e Astronomia que funcionavam em sua casa. Em 1832 casou-se com Amélie Gabrielle Boudet e não teve filhos.

Denizard já havia estudado o magnetismo popularizado por Mesmer durante três décadas (??). Em 1854 ouviu falar pela primeira vez das mesas girantes que respondiam até perguntas formuladas mentalmente. Incrédulo a princípio, somente em maio do ano seguinte, aceitou convite para assistir a uma dessas sessões na casa da Sra. Planemaison. Percebeu logo que por trás dos movimentos e pancadas sem qualquer interferência humana ou mecânica, havia um fenômeno que ia muito além do simples divertimento que animava os salões parisienses da época. Influenciado pelas idéias iluministas, vigoroso representante do racionalismo francês, utilizou-se da observação rigorosa e do método experimental, sem criar teorias preconcebidas, constatou que os agentes dos fenômenos eram as almas de homens que haviam vivido na Terra. Os chamados mortos continuavam muito vivos, mantendo suas personalidades, caráter, idiossincrasias, sentimentos, idéias e afeições. Mais que isso, Hippolyte, agora Allan Kardec, detectou as profundas conseqüências morais daquela descoberta.

Em 18 de abril de 1857 publicou a obra básica do que definiu como sendo a “ciência que estuda a origem, a natureza e destino dos Espíritos, bem como suas relações com o mundo corpóreo”. Em outro momento resume o caráter da novel doutrina afirmando tratar-se de uma doutrina filosófica de caráter científico e conseqüências morais. A obra em questão era O Livro dos Espíritos. Depois vieram “O que é o Espiritismo”, em 1859; “O Livro dos Médiuns”, em 1863 autêntico manual sobre a fenomenologia mediúnica -; “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, em 1863, enfeixando a análise dos Espíritos sobre os principais ensinamentos de Jesus; “O Céu e o Inferno”, em 1865, dividido em uma parte teórica e outra constituída de 66 relatos de Espíritos em diversas situações de vida e morte, como o suicídio, por exemplo. A última obra publicada em vida foi “A Gênese”, em 1868, um ano antes de desencarnar, a 31 de março de 1869, vitimado pelo rompimento de um aneurisma que o surpreendeu em pleno trabalho.

Desde janeiro de 1858 fez circular a Revue Spirit, publicação mensal que mantinha às custas de um bom número de assinantes no mundo inteiro e de recursos próprios oriundos dos cursos que ministrava, pois jamais fez uso de suas atividades espíritas como meio para sua subsistência. Para alimentar a divulgação das idéias pela revista, no mesmo ano de 1858, em abril, fundou o Instituto Parisiense de Estudos Espíritas, verdadeiro laboratório para a coleta, análise e ordenamento dos novos conhecimentos.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DO ESPIRITISMO:

Existência de Deus, imortalidade da alma, pluralidade dos mundos habitados, pluralidade das existências (reencarnação) e comunicabilidade com os Espíritos ou mediunidade. Princípios complementares: livre-arbítrio humano e lei de causa e efeito, evolucionismo e a moral cristã como modelo de conduta, principalmente a prática do bem ao próximo, como meio de progresso.

MÁXIMAS KARDEQUIANAS:

– Nascer, morrer, renascer e progredir continuamente, tal é a lei frase perenizada no dólmen do Codificador no cemitério Pére-Lachaise que, aliás, este ano também completa 200 anos e onde estão seus restos mortais;

– A verdadeira fé é somente aquela capaz de enfrentar a razão, face a face, em qualquer época da humanidade;

– Trabalho, Solidariedade e Tolerância;

– Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz no combate às suas más inclinações;

– O Espiritismo avançando com o progresso, jamais será ultrapassado porque se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro acerca de um ponto, ele se modificará nesse ponto; se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.

– Não é o Espiritismo que cria a renovação social, mas o amadurecimento da humanidade que fará disso uma necessidade.

O Brasil é o maior país espírita do mundo com 2,3 milhões de seguidores, segundo o Censo, mas o percentual total de adeptos e simpatizantes é de cerca de 10% da população. Estima-se em 80 milhões o número de livros editados neste segmento, distribuídos em 4000 títulos. E tudo começou por ele, Denizard Hippolyte Léon Rivail ou Allan Kardec cuja missão especial de codificar a Doutrina Espírita iniciou-se há 03 de outubro de 1804, com seu retorno ao cenário terrestre. À sua alma imortal, o nosso preito de gratidão pelo legado de conhecimento e nobreza de sentimentos.

(Publicação de responsabilidade da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná. E-mail: adepr@adepr.com.br )

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