O presidente eleito da Rússia, Dmitry Medvedev, tem pregado liberdade e a aplicação da lei, gerando esperanças de que acabe a pressão do governo sobre os líderes de oposição, ativistas dos direitos humanos e empresas cujos ativos são de interesse do Kremlin. Eventos das últimas semanas, no entanto, fizeram crescer suspeitas de que a presidência de Medvedev poderá não ser tão diferente da de seu predecessor, Vladimir Putin.
Desde a eleição de Medvedev, em 2 de março, as autoridades russas mantêm a ofensiva contra ativistas dos direitos humanos e críticos políticos. O pleito, tampouco, diminuiu o interesse do governo por empresas estrangeiras que controlam ativos russos estratégicos, como a petrolífera anglo-russa TNK-BP. A dúvida é até que ponto os eventos refletem a continuada influência de Putin e seus aliados ou o apoio silencioso de Medvedev às políticas do ainda presidente russo. "Medvedev hoje é Putin ontem. Não houve nenhum tipo de mudança no regime", disse à Associated Press Lev Ponomaryev, um veterano defensor dos direitos humanos.
Na quinta-feira (20), autoridades da cidade central de Nizhny Novgorod apreenderam servidores de computador pertencentes a Stanislav Dmitriyevsky, um antigo crítico de abusos cometidos na Chechênia. Dmitriyevsky, cuja prisão já foi pedida inúmeras vezes, alega que a apreensão coincidiu com buscas nos apartamentos de vários ativistas da coalizão Outra Rússia.
Na segunda maior cidade da Rússia, São Petersburgo, um líder do partido liberal Yabloko, Maxim Reznik, ficou detido por quase três semanas por ter supostamente interferido com o trabalho da polícia num caso que seus partidários dizem estar ligado à organização, por Reznik, de uma conferência da oposição. Um tribunal ordenou a libertação de Reznik nesta sexta-feira, mas o líder ainda será submetido a julgamento. Oficiais do governo também vasculharam a sede do partido em São Petersburgo, em busca de material de propaganda que pudesse ser considerado extremista, um amplo termo legal que os ativistas alegam ser usado para perseguições de motivação política.
Outros grupos também fazem relatos de pressão política. Oleg Kozlovsky, que afirma ter sido convocado pelo Exército por seu trabalho no grupo ativista Oborona, contou à rádio Ekho Moskvy que autoridades do governo estavam tentando expulsá-lo de seu apartamento, em Moscou, em retaliação a suas atividades.
Na quinta-feira (20), a principal agência de segurança russa anunciou que dois irmãos com cidadania russo-americana estavam sendo acusados de espionagem industrial em um caso que envolve campos de petróleo e gás da Rússia. Um dos irmãos trabalha na TNK-BP, cujos campos siberianos são cobiçados por firmas aliadas ao Kremlin.
Medvedev só assume formalmente o poder em 7 de maio, e quaisquer mudanças nas políticas do Kremlin, se é que elas ocorrerão, só deverão acontecer gradualmente. Num discurso pré-eleitoral, ele prometeu promover a liberdade de imprensa, assim como fortalecer o sistema judicial e rever o código criminal. No entanto, a expectativa é de que Putin torne-se primeiro-ministro, e é incerto se Medvedev tentará mudar o estilo da administração de seu predecessor.