Os EUA impuseram na sexta-feira, 5, sanções ao petróleo exportado da Venezuela para Cuba. O objetivo é pressionar um dos principais aliados regionais do presidente Nicolás Maduro a deixar de prestar assistência ao chavista, principalmente na repressão e monitoramento de opositores.
Caracas envia a Cuba 59 mil barris de petróleo por dia, que equivalem a 70% do consumo do país. Há seis anos, quando Maduro assumiu o poder em Caracas, esse volume era cinco vezes maior.
Segundo a Casa Branca, as sanções ao petróleo enviado a Cuba foram feitas a pedido da Assembleia Nacional venezuelana, controlada pela oposição e presidida por Juan Guaidó, que se declarou presidente interino do país em janeiro. O objetivo das sanções anunciadas ontem, ainda segundo a Casa Branca, é ampliar o estrangulamento financeiro do regime, bem como sua habilidade para perseguir a oposição. “O objetivo é prejudicar as ferramentas de repressão que Maduro tem”, disse a fonte da Casa Branca em uma entrevista a vários meios de comunicação, entre eles o jornal O Estado de S. Paulo. Este funcionário não é identificado pelo governo americano.
Ao menos 34 embarcações, responsáveis pelo envio de petróleo entre os dois países, e duas empresas tiveram os bens nos Estados Unidos confiscados pelo Departamento do Tesouro. Entre as empresas que trabalham com a entrega de petróleo venezuelano aos cubanos, uma é a liberiana Ballito Shipping Incorporated. A outra é a grega ProPer In Management Incorporated. Os cargueiros, em sua maioria, pertencem à estatal petrolífera PDVSA.
A cooperação petrolífera entre Cuba e Venezuela começou ainda nos governos de Hugo Chávez e Fidel Castro. À época, os cubanos pagavam o petróleo com o envio de médicos a zonas carentes venezuelanas, a chamada Misión Barrio Adentro.
Quando estava no poder, Chávez não embarcava petróleo subsidiado apenas para Cuba. A Petrocaribe, criada na década de 2000, enviava a commodity para outros países da América Central e do Caribe, como Nicarágua, Jamaica e Trinidad e Tobago.
A produção venezuelana de petróleo quando Maduro chegou ao poder beirava os 3 milhões de barris por dia. Destes, 500 mil eram destinados à Petrocaribe, e metade a Cuba.
O endividamento e a falta de investimento em infraestrutura na PDVSA, combinados com a hiperinflação, a queda do barril do petróleo a partir de 2014 e as sanções americanas a partir de 2017, derrubaram a produção quase à metade.
Com dificuldade de honrar parcerias, Maduro foi abandonando seus parceiros caribenhos, com exceção dos cubanos. Como consequência, ele também passou a ter menos apoios em votações na Organização de Estados Americanos (OEA). No ano passado, a Venezuela chegou a importar US$ 440 milhões em petróleo para não deixar de cumprir com seus acordos com Havana.
Isso ocorreu, segundo analistas, porque a parceria que começou na área da saúde se estendeu à segurança e espionagem. Washington e a oposição venezuelana acusam Havana de treinar agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin), responsável pela prisão de dissidentes e opositores do regime. Há relatos de colaboração de agentes do G-2, o serviço secreto cubano, com autoridades do aparato repressor chavista.
Para o secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, Cuba tem um papel crucial na piora da crise venezuelana e, por isso, os envios de petróleo ao país foram alvo de sanções. “Os EUA estão tomando ações contra entidades que oferecem ajuda vital para que Maduro se mantenha no poder”, disse em nota. “Cuba continua a lucrar e apoiar o regime ilegítimo de Maduro com um esquema de ‘petróleo por repressão.'”
As próximas etapas da pressão americana sobre Maduro, ainda de acordo com a fonte da Casa Branca, devem envolver maior pressão econômica e diplomática.
“Temos uma gama de ferramentas que podemos usar e contaremos com o fator surpresa para surpreendê-lo. “Em dois meses e meio conseguimos mais do que nos últimos 20 anos.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.