Em visita a Washington, o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, afirmou nesta segunda-feira, 29, que “há muita expectativa” para as manifestações convocadas na Venezuela para 1º de Maio e defendeu que não se “espere demais” para a transição de governo no país vizinho. “A situação continua, a meu ver, avançando rumo à deslegitimação de (Nicolás) Maduro”, afirmou o chanceler.

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Na terceira viagem à capital dos EUA nos quatro meses de governo, Araújo se reuniu com a cúpula próxima a Donald Trump. Ele teve encontros com John Bolton, assessor de Segurança Nacional, e Mike Pompeo, secretário de Estado. Os americanos são os dois maiores expoentes da linha-dura adotada pelo atual governo contra o regime de Maduro.

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“Precisamos ser prudentes porque desde janeiro temos a expectativa de que o processo de transição democrática se complemente e aconteça a partir da ascensão do presidente (Juan) Guaidó. A esperança é sempre muito presente de que essa extraordinária mobilização popular que está havendo na Venezuela se consolide e que haja realmente o recomeço da democracia. Mas é preciso ser prudente também e não esperar demais nesse momento. Se for nesses dias, seria realmente extraordinário”, disse Araújo, ao deixar o Departamento de Estado, onde se encontrou com Pompeo. “No momento em que a Venezuela retornar à democracia, a perspectiva de crescimento e integração na América do Sul dará um salto extraordinário”, completou o ministro.

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Pressão sobre Maduro completará quatro meses

Desde 10 de janeiro, com o começo de um novo mandato presidencial de Maduro, teve início uma disputa de poder na Venezuela. Os EUA e cerca de 50 países reconheceram Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, como presidente interino, enquanto Maduro se sustenta com apoio da Rússia e China, além de apoio de militares locais. Os americanos têm pressionado o regime de Maduro com imposição de sanções diplomáticas e econômicas aos aliados do venezuelano.

Na retórica, os EUA adotam a estratégia de deixar no ar a ameaça de uma ação militar na região, destacando que “todas as opções estão sobre a mesa”. Os países do entorno, incluindo o Brasil, rechaçam o apoio a uma eventual ação militar. Nos bastidores, os assessores de Trump admitem que o uso de força é pouco provável, ainda mais sem apoio regional.

Opções de pressão para o Brasil

Questionado se há alguma mudança na forma de pressão que o Brasil pretende fazer ao regime de Maduro, Araújo respondeu que “não, segue pela pressão diplomática”, mas afirmou “que é preciso ver sempre quais seriam os próximos passos”. Segundo ele, o País vai “seguir colocando pressão” no regime de Nicolás Maduro e é “irreversível” a posição do Brasil e países que pertencem ao Grupo de Lima de trabalhar pela transição de regime na Venezuela. Ele descartou que tenha havido qualquer conversa sobre pressão militar durante as reuniões nos EUA. “Seguimos com a pressão diplomática em todas as frentes, estimulando a mobilização popular”, disse.

O chanceler disse não ter informação sobre um movimento dos militares venezuelanos para assumir o poder no lugar de Maduro e destacou que, desde o começo do processo de reconhecimento de Guaidó como interino, o Brasil espera que os militares locais “manifestem sua adesão ao que nós consideramos o governo legítimo”. “Se isso acontecer, seria fantástico”, afirmou Araújo.

“A Venezuela é uma situação muito volátil, então é importante estar conversando permanentemente sobre isso. Há esse fato novo, a mobilização convocada para 1º de Maio, há expectativa sobre isso. Não mudou o central: o nosso compromisso pelo fim do regime Maduro”, completou o chanceler depois da reunião de cerca de 45 minutos com Pompeo.

Rotina de visitas aos EUA

A primeira viagem de Araújo à Washington desde o início do governo foi prévia à visita de Bolsonaro a Trump. Depois, o chanceler foi parte da comitiva presidencial que acompanhou a ida do presidente brasileiro à Casa Branca. As reuniões em Washington nesta segunda-feira foram solicitadas a pedido do Brasil. Segundo o ministro, o assunto principal é a “implementação de compromissos” que foram estabelecidos entre os dois países na visita presidencial de Bolsonaro.

O ministro disse que aproveitou a vinda a Los Angeles, para um seminário de investimento, e “quis fazer a visita” a Washington. Los Angeles, na Califórnia, fica na costa oeste dos Estados Unidos. Para chegar à capital americana, na outra costa, é preciso atravessar o país em um voo de mais de 5 horas de duração. “Basicamente é um follow-up, porque tivemos compromissos muito importantes na visita, queremos criar mecanismos que sistematizem isso”, afirmou Araújo, sem detalhar quais seriam esses mecanismos.

Sucessão na embaixada americana

Araújo foi acompanhado nas reuniões pelo trio que encabeça, atualmente, as articulações do governo Bolsonaro com os EUA: os diplomatas Sérgio Amaral, Fernando Pimentel e Nestor Forster. O atual embaixador do Brasil nos EUA, Sérgio Amaral, está de saída e já teve sua remoção publicada no Diário Oficial, mas deve permanecer na capital americana até junho. Na vacância do cargo, o encarregado pela embaixada será o número dois de Amaral no local, que é Pimentel.

Mas desde a eleição de Bolsonaro e principalmente após a visita presidencial aos EUA, ganha força o nome de Forster como futuro embaixador do País em Washington. Apesar de não ser o substituto de Amaral na hierarquia atual, ele tem participado de reuniões dos integrantes do governo em Washington. Hoje, Araújo chegou acompanhado dos três ao Departamento de Estado. Forster e Amaral subiram com o chanceler para a reunião com Pompeo, mas Pimentel deixou o prédio antes do horário previsto para o início da reunião.