Funcionários norte-americanos reconheceram hoje, pela primeira vez, que o ex-soldado das Forças Especiais Raymond Davis, que está detido no Paquistão por ter matado dois homens a tiros, trabalha para a Agência Central de Inteligência (CIA). Eles disseram, porém, que ele não estava envolvido em operações de espionagem.
Os funcionários disseram que Davis, que está preso na cidade de Lahore desde o final de janeiro, era responsável por garantir a segurança de empregados da CIA e de outras agências no Paquistão. “Rumores que digam o contrário são simplesmente errados”, disse um funcionário norte-americano a respeito das afirmações de que Davis estava diretamente envolvido em operações de espionagem.
Os Estados Unidos afirmam que Davis, de 36 anos, atirou nos dois homens em legítima defesa, quando eles tentavam roubá-lo. Referindo-se a Davis como “nosso diplomata”, o presidente Barack Obama disse na semana passada que ele está coberto pela imunidade diplomática e deveria ser imediatamente libertado. Em razão da forte repercussão que os assassinatos tiveram no país e da ira do povo com as mortes, o governo paquistanês tem se recusado a liberar Davis.
O caso tem atrapalhado as relações entre as agências de espionagem dos EUA e do Paquistão, ameaçando a cooperação contra militantes nas regiões tribais da fronteira com o Afeganistão, disseram os funcionários. Os EUA temem pela vida de Davis e pediram que os paquistaneses tomem mais medidas para assegurar sua segurança.
A prisão onde Davis está detido abriga cerca de 4 mil detentos, a maioria deles militantes, segundo os funcionários norte-americanos. Davis foi transferido para uma parte separada da instalação. Os funcionários norte-americanos disseram que as armas de todos os guardas foram confiscadas por temores de que eles possam matá-lo. Cães estão provando e cheirando a comida enviada a Davis para certificar que ela não está envenenada.
Uma grade preocupação dos EUA é que a polícia local está permitindo a realização de protestos nas proximidades da prisão, disseram os oficiais. “O Paquistão tem a obrigação solene de proteger Ray Davis. Se eles não vão libertá-lo – o que deveriam fazer tendo em vista sua imunidade diplomática – com certeza eles podem encontrar um lugar mais seguro para ele”, disse um dos funcionários.
Um importante integrante da agência de inteligência paquistanesa, a Inter-Services (ISI, pela sigla em inglês), disse que o Paquistão não sabia que Davis estava trabalhando para a CIA e acredita que os EUA podem estar usando funcionários não identificados como uma forma de evitar as restrições de vistos impostas por Islamabad à agência de espionagem norte-americana. “Nós nem sequer temos informações sobre ele”, disse um funcionário da ISI. “Não sabemos quantos Raymond Davis podem estar por aí”.
A CIA tem “agito com arrogância em relação à ISI, o que resultou no enfraquecimento do relacionamento do qual é inteiramente dependente”, disse um importante funcionário da agência paquistanesa, acrescentando que as autoridades do país estão sob intensa pressão de grupos islamitas e de estudantes para não libertar Davis. As informações são da Dow Jones.