O escritor alemão Günter Grass, Nobel de Literatura, morreu nesta segunda-feira, aos 87 anos, informou sua editora. Em sua obra, Grass explorou a culpa no pós-guerra, e em 2006 ele admitiu que fez parte de uma das mais infames unidades militares nazistas. Talvez o escritor alemão contemporâneo mais conhecido, Grass morreu em uma clínica na cidade de Lübeck, no norte alemão, segundo a editora Steidl. A causa da morte não foi informada no comunicado.
Nascido na então cidade alemã de Danzig em 1927, Grass ganhou o Nobel de Literatura em 1999. A Academia Sueca destacou o trabalho dele por suas “vívidas fábulas negras”, que “retratam a face esquecida da história”.
Em 2006, o escritor admitiu que aderiu, na juventude, à divisão nazista Waffen-SS na Segunda Guerra Mundial. A revelação foi feita pouco antes de ele publicar sua autobiografia, “Nas peles da cebola” (publicada no Brasil pela Record). A confissão tardia gerou um debate sobre os segredos nazistas e a culpa das pessoas que viveram aquela época.
Grass omitiu durante décadas sua participação, sendo depois da revelação do caso acusado na Alemanha de hipocrisia, já que tinha uma grande autoridade moral no país e próximo da centro-esquerda. “A coisa mais importante para mim era escapar”, disse Grass durante uma entrevista em 2006 ao Frankfurter Allgemeine Zeitung, explicando o motivo de ter assinado os papéis para prestar o serviço militar quando adolescente. “Fora das limitações, longe da minha família”, disse o escritor.
Em seu livro mais famoso, “O tambor”, é retratada Danzig, atualmente a cidade polonesa de Gdansk, e sua transformação na Segunda Guerra Mundial. A Academia Sueca descreveu esse romance como “um dos trabalhos literários mais duradouros do século XX”.
Mais recentemente, Grass gerou controvérsia por suas críticas a Israel. Em 2012, ele publicou um poema intitulado “O que precisa ser dito”, alegando que o arsenal nuclear israelense ameaça a paz mundial e poderia aniquilar o povo iraniano. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou na ocasião que Grass estabelecia “uma vergonhosa equivalência moral” entre o Irã e Israel. O governo israelense não admite publicamente a existência de seu arsenal nuclear, mas se acredita amplamente na sua existência.
Grass apoiou por um longo período o Partido Social Democrático (SPD), que atualmente é o parceiro minoritário na coalizão de governo da chanceler alemã, Angela Merkel. O presidente do SPD, Sigmar Gabriel, também ministro da Economia, disse que a Alemanha seria mais pobre, sem a “voz vigilante por mais tolerância, seu desejo de se envolver e suas intervenções políticas regulares”.
Em sua obra, Grass examinou a cumplicidade dos alemães comuns na ascensão do nazismo. Explicando por que escreveu “O tambor”, Grass disse ao Frankfurter Allgemeine Zeitung em 2006 que, nos anos após a Segunda Guerra Mundial, os alemães fingiam que haviam sido “sequestrados por uma horda”. “Isso não era verdade, rebateu. “Eu vi como criança como tudo isso aconteceu à luz do dia – com entusiasmo e com apoio.”
O presidente alemão, Joachim Gauck, escreveu hoje à viúva do escritor, Ute, para expressar suas condolências e elogiar o papel do escritor em forçar a Alemanha a confrontar seu passado. Também destacou o papel político do escritor ao longo de sua trajetória. Fonte: Dow Jones Newswires.