O presidente eleito do Uruguai, o ex-guerrilheiro tupamaro José “Pepe” Mujica, começou ontem uma série de reuniões com os integrantes da coalizão de governo Frente Ampla para definir a composição de seu gabinete e uma eventual participação dos partidos da oposição.
Mas a decisão de Mujica de montar uma equipe moderada – aprovada pelos mercados – está preocupando os setores posicionados à esquerda na Frente Ampla, especialmente os correligionários do Movimento de Participação Popular (MPP), facção que dentro da coalizão é integrada pelos ex-guerrilheiros tupamaros e seus simpatizantes.
Um dos líderes históricos dos tupamaros, Julio Marenales, declarou que não está “eufórico” pela vitória de seu companheiro de militância. Cético, ele acredita que a esquerda uruguaia “não está fazendo o socialismo”.
No entanto, Marenales ressaltou que a “barra chica” (a “turma pequena”, em alusão ao pequeno grupo de ex-guerrilheiros de Mujica nos anos 60 e 70) irá controlar Mujica. “A “barra chica” controlará as propostas que o congresso da Frente Ampla fez, já que se trata de uma partitura que pode ter execuções diferentes”, disse. Depois, acrescentou: “Nós queremos que ele toque a partitura para favorecer os pobres.”
Durante a campanha eleitoral, o próprio Mujica admitiu que, se eleito, deixaria para trás algumas bandeiras ideológicas, adaptando-se aos novos tempos. Segundo ele, a ideia era fazer uma “manobra de entrada que seja o mais à direita possível, como Luiz Inácio Lula da Silva fez no Brasil para não assustar os bons burgueses”, para evitar o risco de desestabilização no inicio do governo.
Um dos sinais de sua guinada à direita foi o amplo espaço que concedeu a seu vice-presidente, Danilo Astori, um socialista moderado, definido pelos economistas como “amigo dos mercados”. Ele também foi ministro da Economia na maior parte do governo do também socialista moderado Tabaré Vázquez, atual presidente.