Rafael Correa, ex-presidente do Equador, negou nesta terça-feira, 8, que esteja orquestrando um golpe contra o governo em seu exílio voluntário na Bélgica depois de ser acusado de incentivar os piores tumultos em anos no país.
Protestos contra o fim dos subsídios dos combustíveis irromperam em todo o país, levando o presidente equatoriano, Lenín Moreno, a acusar Correa, seu antecessor e antigo mentor, de tentar depô-lo com ajuda do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. O Equador está entre as dezenas de países que defendem a saída de Maduro do poder.
“São tão mentirosos que se contradizem. Dizem que sou tão poderoso que de Bruxelas, com um iPhone, poderia liderar os protestos… estão mentindo”, disse Correa à agência Reuters erguendo o celular.
“As pessoas não aguentavam mais, esta é a verdade”, disse, referindo-se às medidas de austeridade adotadas por Moreno com o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Aliados, Moreno e Correa romperam em 2017
Moreno abandonou as políticas de esquerda do governo de Correa, entre 2007 e 2017, um período raro de estabilidade para um país acostumado a convulsões políticas, mas que terminou em alegações de corrupção, que Correa nega.
Em um pronunciamento de televisão feito na noite de segunda-feira, Moreno, que deixou a capital Quito, disse usando um tom desafiador que não recuará no aumento do preço dos combustíveis diante do que chamou de “plano de desestabilização” orquestrado por Correa e Maduro.
A Venezuela não se pronunciou sobre as acusações do presidente equatoriano, mas o líder opositor venezuelano Juan Guaidó repetiu as acusações de Moreno, assegurando que os aliados de Maduro estão tentando desestabilizar o Equador.
Ironia e acusações de traição
Correa criticou Moreno duramente, até mesmo em um vídeo que circula nas redes sociais no qual canta “Equatorianos, saiam às ruas para resgatar seu país… Lenín, tchau!”
“Aqui não há golpismo. Os conflitos na democracia se resolvem nas urnas e é exatamente isso que pedimos: Adiantar as eleições em caso de grave comoção social, como a que estamos vivendo”, disse.
Sentado em um escritório vazio, a não ser pela bandeira do Equador e sua foto oficial de presidente, Correa disse estar disposto a voltar a seu país, possivelmente como candidato a vice-presidente, se novas eleições forem convocadas.
“Se for necessário, regressarei. Teria de regressar para ser candidato a algo, por exemplo, vice-presidente”, disse Correa. Ele afirmou que ganha a vida em Bruxelas em parte como consultor do governo da Venezuela e do canal russo RT, que tem apoio estatal da Rússia. “A partir disso, seria necessário uma Assembleia Constituinte.”
Correa, que há dois anos vive na Bélgica, tem uma ordem de captura no Equador e é acusado pela Promotoria de vários casos de corrupção./ COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS