Como aponta o último Censo, de 2000, a população com mais de 60 anos, de Curitiba, cresceu 30% em nove anos. As pesquisas mostram que, atualmente, além de aumentar a cada ano, a população idosa, superior a 133.619 habitantes, participa e procura mais os programas e serviços especializados, cuja oferta também cresce no mercado. Há alguns anos eram somente os ?bailões? que ocupavam o tempo ocioso. Hoje, nesse leque, os idosos encontram roteiros de viagens, atividades físicas e desportivas, alfabetização e até universidade. Por que não?
?Hoje são em maior número e mais conscientes de seus direitos, têm mais informação e há mais oferta. Está havendo maior participação porque tem mais oportunidades?, afirma o geriatra Maurílio Pinto. O profissional ainda explica que um dos fatores que faz com que essa procura aumente é a solidão que as pessoas com mais de 60 anos tanto temem. ?A família modificou no decorrer dos séculos e o elemento solidão aflige, então eles buscam?, afirma.
Um exemplo de busca por qualidade de vida é o de dona Mercedes Teixeira, de 90 anos. Por dois dias, todas as semanas, ela participa da ginástica oferecida na igreja do bairro. Faz dois anos que se exercita com essa freqüência, mas ela conta que o início não foi fácil. ?Quando comecei eu estava bastante desequilibrada por causa de um tombo, no qual eu quebrei o fêmur. Agora, com a ginástica recuperei meu equilíbrio e até danço. Ter 80 anos ou mais é uma coisa muito grande. Tenho saúde, me cuido, faço ginástica. Tenho impressão que tenho menos. Olhe para mim, estou aqui com fé e ânimo. Posso fazer tudo. Estou vivendo?, conta a senhora, dando um show de vitalidade.
Junto com dona Mercedes, outras 70 pessoas participam das aulas de ginástica para a terceira idade. A professora, Janaina Rodrigues Gomes, no entanto, faz um alerta sobre as crescentes ofertas do mercado. ?Conscientes eles estão, mas o que acontece é que a procura foi maior que a oferta, ou melhor, mais rápida. Tentando acompanhar, o mercado ainda não está com informação e formação suficiente para atender esse público. É preciso procurar os serviços, mas procurar e cobrar qualidade e preço justo?, alerta a professora, graduada em Educação Física e especializada em Gereontologia.
Rubens Junqueira Portugal, de 76 anos, acorda todos os dias entre 3h e 4h, até o nascer do dia ele verifica suas mensagens de e-mail e as responde. Assim que o dia clareia, ele alonga e parte para caminhada diária de 30 minutos. Depois de exercitar-se fisicamente, aí começam todas as demais atividades. ?Trabalho no Instituto Rubens Portugal, cuja missão é cuidar da educação de crianças. Fazemos palestras, reuniões, cuidamos da qualidade da educação dos municípios brasileiros. Também mantenho, desde 1997, uma pousada em Jijoca de Geriquaquara, há 300 quilômetros de Fortaleza?, conta Portugal. Ele também dá algumas dicas. ?A cada ano me obrigo a estudar e ler mais, para acompanhar as mudanças humanas e avanços tecnológicos. Cada pessoa tem sua natureza. Entretanto, acho que há uma relação entre saúde e sentido de vida, projetos?, sugere dizendo que a empolgação de hoje é até superior a de tempos atrás.
Não é somente Rubens que procura qualidade de vida via educação. Como expõe Ilsa Mara da Costa Novack, coordenadora do programa de Educação para Jovens e Adultos (EJA) de Curitiba, são três os projetos que atendem, durante o dia, o público com mais idade – ?Hora do EJA?, ?Brasil Alfabetizado?, e ?Alfabetizando com Saúde?. No total, participam mais de 1.190 alunos. As aulas são ofertadas nas associações de bairro, igrejas e unidades de saúde. ?De 2004 para cá eles estão buscando mais e, por incrível que pareça, não tem quase desistência. Eles não vão só para aprender a ler e escrever, mas para não ficar em casa sem ter o que fazer. É o lazer, o encontro?, afirma.
Ainda como afirma a coordenadora do EJA, grande também é a procura de aposentadas para serem professoras voluntárias. Irene Desanoski, de 69 anos, é uma delas. ?Estamos com 50 alunos. Está sendo formada a quarta turma. Tem até uma aluna de 90 anos. Às vezes elas chegam meio para baixo, mas logo se animam. É a auto-estima que melhora, a saúde melhora. Elas revivem. E a gente… Parece até que ficamos mais novas, com 30, 40 anos?, afirma Irene.
No meio artístico a oferta também aparece. Milton Muller tem 74 anos e apresenta um programa de televisão para a terceira idade. Ele conta que às segundas, ele faz as entrevistas; às terças faz o voluntariado em asilos, lares do idoso, onde alguns programas são gravados; e, todo sábado, o clube realiza um passeio, do qual participam 70 pessoas (idosas) por região. ?Desde que estou com esse projeto estou como todo o ânimo. Hoje o idoso tem lugar na sociedade que não tinha antes. Eu não queria ser idoso há vinte, trinta anos atrás. Hoje não, hoje está uma beleza?, afirma.
Segundo o geriatra Maurílio Pinto, Curitiba, hoje, disponibiliza toda uma rede de apoio que traz oportunidades de serviços e programas. ?Acabou aquela história só de bailão. O idoso tem escolha: vou me inscrever no curso de informática, vou fazer ginástica; vou passear, viajar, independente das limitações que tenho. Sou capaz. Esse é o espírito que faz com que aumente a qualidade de vida?, indica o médico.
Agências oferecem roteiros para essa faixa etária
De acordo com o gerente de uma agência de turismo em Curitiba, Rafael Munhoz de Oliveira, a procura por roteiros específicos é também crescente, principalmente nos feriados. Entre os lugares mais procurados estão Caldas Novas (Pousada do Rio Quente), Rio de Janeiro, enfim, locais fechados (termas) e cidades históricas.
?Faz três anos que tem aumentado essa procura, principalmente desde 2004. Hoje está muito maior. Hoje todas as agências devem oferecer roteiros para essa idade. Não tem como ficar fora disso?, afirma Rafael Munhoz de Oliveira.
Segundo o gerente, as razões são as mais diversas. ?Muitos viajam por diversão, novas amizades, para fugir da rotina, aproveitar a vida?, afirma. Segundo ele, os preferidos são os roteiros rodoviários, cerca de 70%, e, em cada viagem, os ônibus partem com 30 a 50 idosos. ?Este ano já foram de 8 a 10 excursões com esse público. Eles são os mais animados?, afirma Oliveira. Cada pacote, curto e de ônibus, custa entre R$ 350 e R$ 800. ?Se o roteiro for bom e o grupo também, eles não se incomodam de pagar o preço que for. Acredito que hoje eles estão bem atendidos?, conclui. (NF)
Universidades abrem as portas para idosos
Algumas universidades, a exemplo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), abrem também as portas e oferecem cursos específicos para idosos. De acordo com o coordenador do Programa de Estudos da Terceira Idade, João Biragibe Bakker Filho, psicólogo e gerontólogo, hoje o programa atende cerca de 350 alunos com diversos cursos: de extensão; Laboratório de Memória; Arte de Viver; Atividade Física; Canto e Coral; Dança Circular; Informática; Línguas; Pintura; Teatro; Vida e Transcendência. Além de realizar trabalhos sociais e a Sexta-feira Alegre, com filmes e passeios pela cidade.
?Eles estão cada vez mais motivados. O que é difícil é o trabalho remunerado nessa idade, mas o trabalho em si, intelectual, devem buscar. As pessoas vêem. Agora a sociedade está cada vez mais buscando atingir essa porção da sociedade?, afirma o coordenador.
Os interessados em informação a respeito do programa devem ligar para o (41) 3271-2367, (41) 3271-2400 ou ainda (41) 3299-4411. (NF)
Avó curitibana se destaca em congresso do Mercosul
No Congresso de ?Abuelos? do Mercosul, uma conferência de avós, realizada em agosto, na Argentina, Regina Mary Wolski, de 57 anos, era uma das mais de 3.800 participantes. Além de participar de palestras e debates sobre a terceira idade, a curitibana, avó de seis, revelou-se em um show de talentos. ?Eram 312 inscritos. Ganhei um prêmio na categoria fantasia, de Carmem Miranda, e na categoria performance tirei primeiro lugar com a Mulher Rendeira?, conta Regina.
No palco, ela desenvolve a performance em idiomas e ritmos de vários países – Argentina, França, Estados Unidos, Itália, Portugal – e termina sambando. ?Esse já é o quarto troféu que eu ganho. Ganhei três no Brasil?, afirma a avó.
Dona Regina desfila todo o ano no Carnaval em Curitiba e, iniciando em 2000, ela conta que já concluiu um curso de modelo e manequim e teatro. ?Acho que tenho bem mais ânimo depois dessa idade. Quero continuar com minha dança, meu teatro?, conta. (NF)