O tão aguardado discurso da primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, desta sexta-feira sobre o acordo para retirada do país da União Europeia, o Brexit, voltou a reforçar que “nenhum acordo é melhor do que um acordo ruim” e trouxe algum grau de detalhamento sobre um ponto nevrálgico das negociações: a fronteira entre as Irlandas.

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“Não queremos voltar a ter uma fronteira dura na Irlanda e temos a responsabilidade de achar uma solução. Como primeira-ministra, não deixarei o Brexit atrapalhar o progresso alcançado na Irlanda”, afirmou May.

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Achar uma solução para esse impasse tem sido, ao longo das negociações entre a UE e o Reino Unido, desafiador. Por estar separada geograficamente do resto do Reino Unido, a Irlanda do Norte divide uma fronteira terrestre com a República da Irlanda, a qual, por sua vez, é membro da UE.

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A Irlanda do Norte tem um histórico de conflitos violentos iniciados na década de 1960 nos quais a população se dividiu entre protestantes a favor de permanecer no Reino Unido e católicos que queriam se juntar à República da Irlanda. O Acordo de Belfast, assinado em 1998, selou a paz ao estabelecer o compartilhamento de poder entre católicos e protestantes, e a existência de uma fronteira alfandegária causa preocupações no governo com um possível retorno da violência.

Para evitar essa “fronteira dura”, May propôs duas possibilidades: a elaboração de uma “parceria aduaneira” ou um “acordo aduaneiro altamente simplificado”. Na parceria, tanto a UE quanto o Reino Unido se ajudariam mutuamente na fronteira, o que permitiria ao país controlar tarifas alfandegárias. Nenhuma das propostas foi exatamente detalhada.

Na quarta-feira (28), a Comissão Europeia propôs que a Irlanda do Norte permanecesse sob as regras da UE, o que foi prontamente rejeitado por Downing Street. Hoje, May disse que a proposta está fora de cogitação. “Nenhum dos lados pode ter exatamente o que quer no pós-Brexit”, ponderou.

Questionada sobre se o Brexit “valeu a pena”, May interpretou a pergunta como se o Reino Unido repensaria a decisão de sair da UE e frisou que isso não irá acontecer. “O povo escolheu e cabe ao Parlamento implementar”. (Flavia Alemi – flavia.alemi@estadao.com)