O sorvete de tamarindo de Antonio Mejia é das coisas mais baratas que se pode comprar na Venezuela. Por 15 mil bolívares (US$ 0,02 no câmbio paralelo, que regula o mercado), também é possível comprar dois cigarros avulsos. Isso se for ao mercado a céu aberto do bairro de Catia, onde caraquenhos de toda cidade a cidade fazem fila para ganhar alguns centavos à hiperinflação, em compras para meses.

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Quem não gosta de tamarindo ou de cigarros, pode abastecer o carro 1.200 vezes com gasolina comum. Considerando-se um tanque de 50 litros, se Mejia quisesse fugir para Boa Vista por terra, por exemplo, poderia percorrer os 1,5 mil quilômetros umas 400 vezes.

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Ele se diz muito velho para sair do país uma vez sequer. Aos 70 anos, seu trabalho é um passatempo. O que ganha com o carrinho não paga o transporte de ônibus do tradicionalmente chavista bairro do Petare, onde vive, até o opositor Chacao.

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A abstenção opositora tornou sua saída ainda mais inútil neste domingo, 20. Diante de um centro eleitoral de Chacao, havia na rua 11 cones laranjas lado a lado às 14h deste domingo. Este é o sistema para organizar filas no lado de fora da escola. Cada cone serve para uma mesa eleitoral, mas o número de eleitores raramente superava o de cones.

Quando alguns poucos eleitores se acumularam, deram o azar de cruzar com a administradora Libertad Pizzani, de 60 anos, que os repreendia furiosa: “Isso não é normal, não se pode participar desta palhaçada. Não voto por respeito à liberdade!”

Defensora do boicote proposto por opositores impedidos de concorrer, Libertad trabalha em uma universidade particular que cobra mensalidades de US$ 12 por mês e deve fechar por falta de alunos. “Chavistas acabam de arrancar à força um cartaz em que eu pedia abstenção”, disse, mostrando alguns hematomas no pulso. Também opositor, Rodrigo Meli, comerciante que a viu gritar, desabafou: “Por opiniões como esta, teremos Maduro por 20 anos”.

Indiferente ao bate-boca, o sorveteiro Antonio revelou sua preferência. “Meu voto é em Henri Falcón, mas todos sabem que só Maduro pode ganhar”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.