O ex-presidente provisório Eduardo Duhalde (2002-2003) vai apresentar sua pré-candidatura hoje à presidência da República. Duhalde, um dos líderes do Peronismo Federal, também denominado de “Peronismo dissidente”, fará o lançamento à tarde, com a presença de celebridades da política argentina, entre as quais o ex-ministro da Economia, Roberto Lavagna, e o ex-presidente do Banco Central, Martín Redrado. As eleições presidenciais serão realizadas daqui a dez meses, em outubro de 2011. O ex-presidente pretende reunir dez mil pessoas no centro de convenções Costa Salguero em Buenos Aires.
Único orador do evento, Duhalde integra o setor do partido Justicialista (Peronista) que reúne os peronistas insatisfeitos com os governos do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) e sua mulher e sucessora, a presidente Cristina Kirchner. Duhalde critica o intervencionismo estatal do governo Kirchner na economia, o crescimento da criminalidade nos últimos anos e a disparada da inflação. O ex-presidente sustenta que está disposto a fazer uma série de alianças para derrotar o candidato do governo (a presidente Cristina Kirchner) e vencer as eleições presidenciais do ano que vem.
No último ano, Duhalde tentou apadrinhar uma candidatura presidencial, embora sem resultados. Entre os respaldos fracassados está o do ex-piloto de Fórmula 1 e ex-governador de Santa Fe Carlos Reutemann, que recentemente negou sua eventual candidatura à presidência do país. Duhalde declarou que na falta de candidatos a respaldar, ele próprio decidiu apresentar sua candidatura.
Na semana passada a presidente Cristina Kirchner, inimiga de Duhalde, sugeriu que o ex-presidente estava por trás dos incidentes nas ocupações de terrenos na cidade de Buenos Aires e na Grande Buenos Aires por parte de favelados e sem-teto. Cristina sugeriu que ele havia “apadrinhado” os incidentes. Neste fim de semana, Duhalde retrucou a acusação em declarações à imprensa: “Há cinco anos tentam me culpar de tudo o que acontece no país.” Segundo ele, o governo Kirchner “faz papelões”.
Os analistas destacam que Duhalde é uma figura crucial no tabuleiro do xadrez político argentino. No entanto, seu peso é maior como organizador de uma frente de oposição do que no papel de candidato. Os analistas sustentam que, embora grande parte dos argentinos considerem que Duhalde teve habilidade para evitar o aprofundamento da crise econômica e institucional de 2001-2002 (ele é definido como um “bom piloto na tempestade”), eles não o elegeriam como novo presidente.
Brigas
Duhalde foi o responsável pela candidatura presidencial de Néstor Kirchner no final de 2002. “El Cabezón” (O Cabeção), como é popularmente chamado, era na época presidente provisório e precisava evitar uma eventual vitória de seu arqui-inimigo, o ex-presidente Carlos Menem (1989-99), de quem havia sido seu vice. Para isso, colocou a máquina do governo para eleger Kirchner, até então um desconhecido governador da remota província de Santa Cruz, no extremo sul do país.
Kirchner, que pretendia ser presidente, precisava do imenso aparato que o “duhaldismo” tinha na província de Buenos Aires, onde estão 40% dos eleitores do país. Na época em que Kirchner tomou posse, em maio de 2003, os analistas e a classe política acreditavam que não passaria de um “títere” nas mãos de Duhalde. No entanto, a realidade foi diferente às previsões. Kirchner rapidamente se tornou independente de Duhalde. Na sequência, fez o possível para reduzir o poder de seu antigo padrinho.
Duhalde, na última meia década, fez uma retirada estratégica e ficou esperando o melhor momento para reaparecer. No ano passado, respaldou a candidatura de Francisco de Narváez para as eleições parlamentares de junho. Com o apoio de Duhalde, De Narváez derrotou Kirchner, infligindo ao casal presidencial sua primeira derrota política de peso.