A tensão entre egípcios e palestinos acentuou a ambígua política do Egito em relação ao conflito no Oriente Médio e a delicada situação do presidente do país, Hosni Mubarak. Mesmo com um governo forte, ele enfrenta pressão do mundo muçulmano e de sua oposição interna, por um lado, e dos Estados Unidos e de Israel, de outro. Os palestinos reclamam de medidas tomadas pelo Cairo, entre elas a proibição da entrada na Faixa de Gaza de um comboio internacional com toneladas de ajuda humanitária aos 1,5 milhão de moradores.
No entanto, a medida mais criticada é a decisão de construir um muro subterrâneo na fronteira com Gaza, o que deve restringir o contrabando de produtos para a região. A obra, apelidada pelos palestinos de “Muro da Morte”, começou a ser construída em meados de novembro e prevê a colocação de centenas de vigas de metal de 18 metros de profundidade ao longo dos 14 quilômetros de fronteira.
A ideia é bloquear a passagem dos cerca de 400 túneis subterrâneos que ligam Rafah, no sul de Gaza, ao Deserto do Sinai, no norte do Egito. As passagens movimentam cerca de US$ 1 milhão por dia. Por elas, passa de tudo: de mantimentos a materiais de construção, de animais a motocicletas. Até noivas cruzam a fronteira por baixo da terra. Sem contar o contrabando de armas e munições.
O fim dos túneis, ou sua redução substancial, tende a piorar da situação econômica de Gaza, que hoje depende, em grande medida, do contrabando de bens para driblar o bloqueio econômico israelense e egípcio, que começou em 2007, assim que o Hamas tomou o poder no território. Para o chanceler egípcio, Ahmed Abul-Gheit, a barreira é uma questão de defesa nacional. “O Egito está colocando estruturas para defender suas fronteiras”, disse.
Saia-justa
As decisões do Cairo têm deixado Mubarak numa saia-justa diante do mundo árabe e da opinião pública interna de seu país, que apoia os palestinos. Semana passada, em um dos protestos contra o Egito em Amã, na Jordânia, manifestantes queimaram bandeiras do país e levaram cartazes com a imagem de Mubarak com uma Estrela de Davi na testa.
Houve protestos também no Líbano e em outros países árabes. Na Cisjordânia, apesar do antagonismo ao Hamas, autoridades fizeram acusações diretas. “Os egípcios falam em apoiar os palestinos enquanto cooperam com o estado de sítio a Gaza. O Egito colabora com os EUA”, afirmou Hassan Hreisheh, vice-relator do Conselho Legislativo Palestino.