O clérigo radical xiita Moqtada al-Sadr retornou hoje para sua cidade natal, Najaf, após permanecer fora do Iraque por quase quatro anos. “Moqtada al-Sadr voltou para sua casa em Najaf. Ele chegou por volta das 15h (horário local, 10h em Brasília) com vários líderes do movimento sadrista”, disse uma fonte do grupo que apoia o clérigo, afirmando que o líder voltou definitivamente ao país. Um funcionário do gabinete do primeiro-ministro Nouri Al-Maliki confirmou que um avião levou al-Sadr para a cidade do sul do Iraque na tarde de hoje. Ele pediu para que sua identidade não fosse revelada.
Centenas de seguidores de al-Sadr estavam reunidos em sua casa. Outros se encaminharam para a mesquita do Imã Ali, reverenciada entre a maioria xiita do Iraque, após informações de que o clérigo teria ido ao templo para visitar o túmulo de seu pai antes de ir para casa. Al-Sadr não é visto em público no Iraque desde 2007, época em que havia um mandato de prisão contra ele por causa de seu suposto papel no assassinato de um outro clérigo xiita rival após a invasão norte-americana em 2003.
Depois de deixar o Iraque, ele viveu no Irã, onde estudou o Alcorão, e fez raras visitas públicas a outros países. No ano passado, ele foi à Síria para se encontrar com o ex-primeiro-ministro iraquiano Ayad Allawi, que concorreu Al-Maliki para o cargo. Em 2008, Al-Maliki lançou uma ofensiva contra os seguidores de al-Sadr em Sadr City, bairro de Bagdá onde há forte presença do grupo do clérigo, e em Basra, no sul do país. A demonstração de força enfureceu muitos de seus aliados xiitas, mesmo os de outras seitas. Centenas de seguidores de al-Sadr foram presos durante essas operações.
A inimizade entre al-Sadr e Al-Maliki se aprofundou, mas após meses de promessas de que nunca permitiria que Al-Maliki tivesse um segundo mandato, al-Sadr e seus seguidores decidiram apoiá-lo. Acredita-se que a decisão tenha sido tomada após intensa pressão do Irã, que gostaria de solidificar o controle xiita no Iraque. Mas há também questões sobre o que al-Sadr e seu seguidores receberam em troca do apoio. Autoridades iraquianas disseram que centenas de seus partidários foram libertados da cadeia.
O analista político iraquiano Hadi Jalo disse que o retorno de al-Sadr, criticado pelas forças norte-americanas, também destaca o enfraquecimento da influência dos Estados Unidos na política do Iraque, na medida em que os soldados norte-americanos se preparam para deixar completamente o país até o final deste ano. “Agora, figuras políticas antiamericanas, xiitas ou sunitas, sentem-se mais confiantes e seu papel na configuração do futuro do Iraque está aumentando. O governo iraquiano está pronto para aceitar e incluir figuras conhecidas por suas posições antiamericanas”, disse ele. “Os sadristas estão politicamente mais fortes e reconhecem sua importância na vida política do Iraque”, completou. As informações são da Associated Press e da Dow Jones.