Uma mulher saudita afirma ter assumido o volante de um carro neste sábado e dirigido até uma mercearia sem ser parada ou incomodada pela polícia no caminho, dando início a uma campanha contra uma proibição que impede mulheres de conduzir veículos na ultraconservadora Arábia Saudita.
Apesar de alertas feitos pela polícia e autoridades do governo saudita, pelo menos quatro mulheres conseguiram dirigir sem ser importunadas, segundo uma delas, May Al Sawyan. Embora não haja uma lei específica sobre o assunto, mulheres não têm direito à carteira de habilitação no reino do Golfo Pérsico.
Clérigos poderosos com forte influência sobre a monarquia saudita garantem a proibição, sob o argumento de que desrespeitá-la espalharia a “licenciosidade”.
Antes do início da campanha, a polícia avisou que “usaria a força” contra qualquer um que tentasse perturbar a ordem pública. Além disso, clérigos ultraconservadores protestaram durante a semana contra uma petição online, que foi lançada no fim de setembro e já teria atraído mais de 16 assinaturas. Segundo ativistas, o site da petição, oct26driving.org, e uma página relacionada em inglês no YouTube foram vítimas de hackers ontem.
Os ativistas postaram no site um vídeo de quatro minutos mostrando, segundo eles, Al Sawyan dirigindo por Riad, capital do país. Ela usava óculos escuros e tinha os cabelos cobertos pelo tradicional lenço preto usado por mulheres sauditas, mas seu rosto era visível.
Como outras mulheres que desafiam a proibição na Arábia Saudita, Al Sawyan afirma que obteve sua licença para dirigir no exterior. “Estou muito feliz e orgulhosa de não ter havido nenhuma reação contra mim”, disse ela por telefone à Associated Press.
Al Sawyan disse, no entanto, que estava preparada para o risco de ser detida e que chegou a passar por um carro de polícia, mas a uma distância segura que não permitiu que ela fosse vista.
A campanha é uma rara demonstração de desafio na Arábia Saudita. O primeiro grande protesto do gênero ocorreu em 1995. Na ocasião, 50 mulheres foram detidas por um dia após dirigirem, tiveram os passaportes confiscados e perderam seus empregos. Já em junho de 2011, cerca de 40 mulheres assumiram o volante em várias cidades do país, numa manifestação que teve início após a prisão de uma saudita que havia postado um vídeo de si mesma dirigindo. Fonte: Associated Press.