Jean Baptiste, uma mulher grávida de um mês, passou 60 horas soterrada sob os escombros. Ela era enfermeira e estava trabalhando em um hospital na hora do terremoto. Hoje, está em um centro de saúde de emergência da base militar brasileira no Haiti. Sua vida foi salva graças ao empenho de jornalistas, soldados e acima de tudo de seu marido e dela própria. “Inteligente, ela se refugiou sob uma cama, que serviu como casulo”, conta o marido.
As paredes caíam, mas ela não foi atingida, protegida pelo escudo improvisado. Mas as horas se passavam e nada do resgate. “Eu gritava e depois descansava para recuperar as forças”, disse ela com uma sonda improvisada sob uma tenda na base militar brasileira em Porto Príncipe. “Não queria perder minhas forças”, acrescentou, com a voz firme, quatro horas após ter sido retirada do hospital destruído. “Eu pensava que, se fosse para morrer, teria morrido na hora do terremoto.”
Quando ocorreu o tremor de 7 graus na escala Richter, seu marido, que é policial, correu para o hospital. “Senti, sabia que ela estaria viva”, disse. “Fiquei batendo com o martelo, até que consegui ouvir os gritos dela.”
Já haviam passado mais de 50 horas do momento do terremoto e chances de encontrar um sobrevivente eram pequenas, segundo as equipes de resgate. Nesse momento, passou pelo local uma patrulha do Exército, acompanhada por jornalistas brasileiros.
A repórter Lilia Teles, da Rede Globo, viu o marido de Jean Baptiste gritando, ao lado de dezenas de outros haitianos, que acenavam a quem passava. Ela achou estranho, pois o desespero do grupo parecia diferente, e pediu que os soldados parassem a viatura.
Os militares brasileiros desceram e foram até os escombros, onde tentaram escutar algum barulho. Pediram silêncio ao grupo que tentava fazer o resgate. Então foi possível ouvir a voz da mulher. “Você está bem?”, perguntou o soldado brasileiro, em inglês. A mulher respondeu que sim. Em seguida, por uma fresta, a surpresa: o soldado sentiu a mão de Jean Baptiste. Viu que mantinha a força e estava consciente. Os soldados brasileiros começaram então a escavar. Depois de horas, ela era levada viva e em boas condições para a base militar brasileira.