O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, afirmou nesta sexta-feira (19) que nenhuma nação africana teria coragem de retirá-lo do poder e que apenas a população do Zimbábue pode tomar essa atitude. A declaração foi uma resposta às afirmações de Jendayi Frazer, secretária assistente de Estado norte-americano para assuntos africanos. Na quinta (18), ela havia afirmado que a questão sobre por quanto tempo o Zimbábue pode resistir à fome, às doenças e aos problemas políticos antes de desintegrar-se ignora o fato de que “já há um completo colapso” do país.
Mugabe afirmou que o país “nunca entrará em colapso”. Segundo o presidente, no poder há 28 anos, “eles (os ocidentais) acham que os africanos são idiotas”. “Que países africanos teriam coragem de ordenar uma intervenção militar no Zimbábue?”, questionou ele, durante a convenção anual de seu partido, o ZANU-PF, realizada em Bindura, 90 quilômetros ao nordeste de Harare, a capital do país. A maioria dos países vizinhos ao Zimbábue, entre eles a potência regional África do Sul, opõe-se a uma intervenção militar no país, onde uma epidemia de cólera já matou 1.123 pessoas.
Os críticos do presidente culpam suas políticas pela ruína do país, que já foi uma nação bastante produtiva. Já Mugabe culpa as sanções do Ocidente pela desintegração econômica do Zimbábue, embora as sanções da União Européia e dos Estados Unidos tenham como alvo apenas as contas bancárias de Mugabe e de uma dezena de seus assessores mais diretos.
Visita
A secretária assistente de Estado norte-americano esteve ontem na África do Sul em consulta a líderes regionais sobre o que pode ser feito para ajudar o Zimbábue. Um dia antes, o presidente sul-africano, Kgalema Motlanthe, enfatizou que acreditava que um governo de união era a solução e que ele deveria ser formado rapidamente. “Nós achamos que a pessoa que arruinou o país precisa sair”, disse Frazer. “Estamos assistindo o Zimbábue tornar-se um país falido. Precisamos agir agora, proativamente, no Zimbábue.”
Ministros de Relações Exteriores de cinco países nórdicos também pediram o fim do “desgoverno” de Mugabe, dizendo, num comunicado conjunto, divulgado hoje, que as autoridades zimbabuanas “são as únicas responsáveis pela trágica situação” enfrentada pelo país. Mas os ministros da Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia afirmaram que continuarão a fornecer assistência humanitária para a população do Zimbábue.
Impasse
Mugabe disse hoje que “as únicas pessoas com o poder de retirar Robert Gabriel Mugabe do poder são a população do Zimbábue”. O líder da oposição zimbabuana, Morgan Tsvangirai, venceu Mugabe nas eleições presidenciais de março, mas os resultados oficiais indicaram que Tsvangirai não obteve maioria, o que forçaria um segundo turno. O opositor retirou-se da disputa por causa da violência atribuída ao Estado.
Para encerrar o impasse sobre a eleição presidencial, Mugabe e Tsvangirai concordaram em formar um governo de união três meses atrás, mas as negociações sobre a formação do gabinete não prosseguiram. Tsvangirai disse hoje que pedirá ao seu partido, o Movimento para a Mudança Democrática (MMD), para cessar as negociações a menos que os presos políticos sejam libertados ou formalmente acusados até 1º de janeiro.
Ele afirmou, durante coletiva em imprensa em Botswana, que mais de 42 integrantes de seu partido de oposição e da sociedade civil foram seqüestrados nos últimos dois meses. Dentre eles há três jornalistas e não se sabe onde essas pessoas estão. “O MDC já não pode mais se sentar à mesma mesa de negociação com um partido que está seqüestrando nossos integrantes e outros civis inocentes e recusa-se a levá-los a uma corte de Justiça”, disse.