A Eurasia divulgou relatório sobre a nomeação de Luis Videgaray como ministro das Relações Exteriores do México, anunciada ontem pelo governo do presidente Enrique Peña Nieto. Na avaliação da consultoria, o retorno de Videgaray deve prejudicar mais a administração na esfera política e gerar mais descontentamento popular, sem trazer impacto positivo significativo.
A decisão de Peña Nieto de nomear o ex-ministro das Finanças para a pasta de Relações Exteriores tem como objetivo preparar o México para o governo de Donald Trump nos Estados Unidos. Trump tem ameaçado o vizinho com medidas protecionistas e também com a construção de um muro na fronteira e a deportação de milhões de ilegais, muitos deles mexicanos. Videgaray foi apontado como um dos artífices da visita do ainda candidato republicano Trump ao México, onde ele se reuniu com Peña Nieto. O encontro, porém, foi muito mal visto no país e o ministro das Finanças acabou forçado a renunciar, em setembro, dias após a visita de Trump.
Com a vitória do republicano, Peña Nieto decidiu trazer de volta o assessor que mais confia, segundo a Eurasia. “O governo está claramente preocupado que Trump vá cumprir suas promessas de campanha e busque políticas agressivas em relação ao México que irão prejudicar a economia”, afirma a consultoria. Ontem, o peso mexicano bateu mínima histórica ante o dólar, após a Ford anunciar que desistiu de construir uma fábrica no México, depois de Trump ameaçar a empresa. O presidente eleito dos EUA ameaçou também outras companhias, dizendo que, caso elas se instalem no México, pagarão mais impostos para trazer seus produtos para os EUA. A Eurasia diz que o fato de que Trump “parece ter sido capaz de impedir decisões de investimento mesmo antes de assumir é uma fonte de real preocupação”.
A consultoria lembra que a economia mexicana é muito integrada à dos EUA – 80% das exportações mexicanas são para o vizinho do norte, do qual vem 50% de suas importações. A Eurasia acredita, porém, que Videgaray terá pouco espaço para convencer Trump a agir de modo diferente com o México. Além disso, o agora chanceler já era visto com ressalvas por lideranças políticas e empresariais antes da visita de Trump. O governo mexicano ainda implementou uma impopular elevação no preço da gasolina, “que certamente afetará de maneira negativa sua popularidade (há protestos por todo México)”, aponta a consultoria. Com isso, a Eurasia prevê que o quadro político piorará nos próximos dois anos, conforme o processo de sucessão de poder ocorre, em um contexto de impopularidade do presidente e descontentamento social, o que pode beneficiar o oposicionista Andrés Manuel López Obrador. Ainda assim, a Eurasia diz ter uma perspectiva neutra para o México, por acreditar que a direção da política macro e microeconômica é positiva e que a elevação do preço da gasolina seja boa para a política fiscal e de energia do país.