Milhares de muçulmanos fugiam da capital da República Centro-Africana nesta sexta-feira subindo em caminhões cuja segurança era feita pelas Forças Armadas do Chade. Um homem que caiu de um caminhão foi morto e seu corpo mutilado, o que mostra a selvageria enfrentada pelos muçulmanos que ficam para trás.
O comboio com cerca de 500 carros, caminhões e motocicletas tomou a direção do Chade, país vizinho predominantemente muçulmano. Multidões de cristãos aplaudiam quando o comboio passava pelas ruas da cidade.
O êxodo testemunhado por jornalistas da Associated Press acontece após dois meses de violência sectária na capital contra muçulmanos, acusados de colaborar com o antigo governo.
Nas últimas semanas, multidões enraivecidas têm ateado fogo a mesquitas e matado e mutilado brutalmente muçulmanos. Na quarta-feira, um muçulmano suspeito de ter colaborado com a rebelião que derrubou o governo de François Bozizé e levou o líder rebelde Michel Djotodia ao poder foi atacado por 15 minutos com facas e tijolos. Soldados sem uniforme mostraram seu corpo pelas ruas antes de ser desmembrado e incendiado.
“É uma situação realmente horrível. Em toda a Bangui, bairros muçulmanos estão sendo inteiramente destruídos e esvaziados”, disse Peter Bouckaert, diretor de emergências do Human Rights Watch, que ajudou muçulmanos a chegar a locais seguros, sob a guarda das forças de paz.
“Suas edificações estão sendo destruídas e desmanteladas, tijolo por tijolo, telhado por telhado, para apagar qualquer sinal de sua existência neste país”, disse ele.
“Os cristãos dizem que os muçulmanos devem voltar para o lugar de onde vieram, por isso estamos indo para casa”, disse Osmani Benui, enquanto fugia de Bangui. “Não temos a possibilidade de ficar porque não temos proteção”, afirmou ela.
A República Centro-Africana é um país predominantemente cristão, com uma considerável população muçulmana no norte, perto das fronteiras com o Sudão e o Chade. Uma aliança de grupos rebeldes muçulmanos do norte derrubou o então presidente em março do ano passado.
Os rebeldes, conhecidos como Seleka, rapidamente se tornaram odiados pelos cristãos na capital depois de realizarem saques, estupros e assassinatos de civis. Um grupo armado cristão, conhecido como anti-Balaka, auxiliado por partidários de Bozizé começou a retaliar sete meses atrás, dando origem aos atuais problemas enfrentados no país. Fonte: Associated Press.