O ex-ditador egípcio Hosni Mubarak, 84, foi declarado clinicamente morto hoje, segundo a agência de notícias oficial Mena.
“Hosni Mubarak está clinicamente morto. Fontes médicas informaram que seu coração parou de bater e não respondeu à desfibrilação”, informou a agência.
Ele foi uma das lideranças árabes que foram derrubadas do poder pela chamada Primavera Árabe, série de manifestações populares que pressionaram por mudanças em regimes autoritários marcados pela corrupção, pobreza e por décadas de duração.
Mubarak estava internado em estado grave no hospital da prisão de Tora, no sul do Cairo, desde o último dia 2, no mesmo dia em que foi condenado à prisão perpétua junto ao ex-ministro do Interior egípcio Habib al Adli, ambos acusados pela morte de manifestantes durante a revolução que forçou sua renúncia no dia 11 de fevereiro de 2011, após 18 dias de protestos populares.
Após a sentença, a saúde do ex-ditador se deteriorou, especialmente após a visita da mulher, no dia 6. Desde então, ele foi transferido para a ala hospitalar da penitenciária, onde ficou inconsciente por dois dias. Hoje, sofreu uma parada cardíaca e foi reanimado após um acidente vascular cerebral.
Em abril desse ano, Mubarak foi hospitalizado em um centro médico de Sharm el-Sheikh, após sofrer um ataque cardíaco, e justo no mesmo dia em que tinha sido interrogado e posteriormente detido.
Com o início de seu julgamento, no dia 3 de agosto do ano passado, Mubarak foi transferido do hospital de Sharm el-Sheikh, às margens do Mar Vermelho, para o Centro Médico Internacional do Cairo, e meses depois, para o hospital da prisão.
Biografia
Nascido em 1928 no Delta do Nilo, Mubarak tornou-se piloto de combate e em 1973 desempenhou um papel fundamental na guerra do Yom Kippur, contra Israel, como chefe da Força Aérea egípcia.
Ocupou o cargo até 1975, quando o então presidente, Anwar el-Sadat, o nomeou seu vice-presidente. Em 1981, o assassinato de Sadat o alçou ao cargo de presidente.
Foi reeleito em 1987, 1993 e 2005, em votações marcada pela baixa participação e críticas de irregularidades. Na eleição de 2005, a primeira com mais de um candidato (o próprio Mubarak), apenas 25% dos convocados votaram e o líder egípcio recebeu quase 90% dos votos.
A chamada Primavera Árabe o destronou, jogando o Egito numa crise política do qual ainda não viu a conclusão.
Ainda antes de ascensão ao poder, Mubarak já se destacou como um articulador importante nas relações com os demais países árabes tanto quanto com Israel e Estados Unidos, numa prática que se prolongou em seus 30 anos de mandato.
Em 1979, foi um dos mediadores do acordo de paz com Israel (os acordos de Camp David) e no início dos anos 90, teve um papel importante nas negociações entre israelenses e palestinos.
Durante a guerra do Golfo (1990-1991), liderou os demais países árabes no apoio à iniciativa saudita de se unir aos EUA para a recuperação do Kuwait, invadido pelo Iraque.
Pressões e a Primavera Árabe
Seu governo foi marcado pelo aumento dos confrontos com grupos guerrilheiros, por conflitos com fundamentalistas islâmicos e pelas pressões por reformas democráticas.
O fato de ter sofrido pelo menos dois atentados (1995 e 1999) revela o grau de turbulência política que marcou suas últimas décadas à frente da presidência.
Essas pressões culminaram em janeiro de 2011, quando milhares tomaram as ruas do Cairo exigindo sua renúncia.
Inicialmente, ele tentou manobrar as exigências da massa, admitindo a necessidade de reformas no país, mas antes do final desse mês ele apontou seu vice, Omar Suleiman para a presidência, e anunciou em fevereiro que deixaria de concorrer para as novas eleições marcadas para setembro.
No dia 11 de fevereiro de 2011, Suleiman apareceu na televisão egípcia para anunciar a renúncia de Mubarak, e a transmissão de poder o Conselho Supremo das Forças Armadas, que atualmente administra o processo de transição para a democracia (em moldes mais semelhantes ao modelo ocidental) no país.
Investigações
Com a saída de Mubarak, o governo interino egípcio começou a investigar as alegações de corrupção e abuso de poder durante seu mandato.
Em agosto de 2011, após Mubarak ser detido na localidade litorânea de Sharm el-Sheikh, começou o chamado “julgamento do século” no Egito, encerrado 10 meses depois com a condenação do líder egípcio, impassível atrás de óculos escuros, e que assistiu as audiências de pijama e deitado em uma maca, devido à piora de seu estado de saúde.
A Promotoria chegou a pedir a pena de morte para o ex-presidente, acusado de ter ordenado disparos contra os participantes dos protestos que eclodiram em 25 de janeiro de 2011.
Por outro lado, a corte, presidida pelo juiz Ahmed Refaat, absolveu Mubarak, seus dois filhos, Alaa e Gamal, e o empresário Hussein Salem, processado à revelia, das acusações de enriquecimento ilícito e danos aos fundos públicos por considerar que esses delitos haviam prescrito.
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