O publisher do jornal `New York Times” Arthur Ochs Sulzberger morreu hoje, aos 86 anos, em sua casa, em Southampton. Conforme obituário publicado no site do próprio jornal, ele estava doente havia algum tempo, e o anúncio foi feito pela família.
Sulzberger assumiu o cargo de publisher em 1963, quando o jornal enfrentava uma grave crise financeira. A empresa havia sido comprada pelo avô dele, Adolph S. Ochs, em 1896 e, desde então, era gerida pela família. Sua carreira como publisher e, mais tarde, como diretor e chefe-executivo da The New York Times Company, durou 34 anos.
Ele entregou o cargo de publisher ao filho em 1992 e o de diretor em 1997.
Em um comunicado, o filho e atual publisher do `NYT”, Arthur Ochs Sulzberger Jr., afirmou que o pai era `um fervoroso defensor da liberdade de imprensa”. Ele disse, na mesma nota, que a luta do pai `ajudou a expandir o acesso à informação crítica e a prevenir a censura governamental e a intimidação.”
Um dos episódios marcantes da trajetória de Sulzberger à frente do `NYT” foi o da publicação, em 1971, de uma série de reportagens sobre papéis secretos do governo a respeito da condução da Guerra do Vietnã (1955-75).
O caso, que ficou conhecido como `Pentagon Papers”, revelou um padrão de mentiras dos presidentes John Kennedy (1961-63), Lyndon Johnson (1963-69) e outros que secretamente escalaram o conflito enquanto, publicamente, garantiam que os EUA não queriam uma guerra mais ampla.
Na ocasião da publicação, o governo de Richard Nixon (1969-74) chegou a exigir a interrupção das reportagens, sob o argumento de que elas ameaçavam a segurança nacional. O jornal rejeitou o pedido, sob a justificativa da Primeira Emenda da Constituição americana, aquela que garante a liberdade de expressão.
Em decisão inédita no país, um juiz federal de Manhattan concedeu ao governo uma liminar que proibia o jornal de publicar textos sobre os papéis vazados. Ao lado do `Washington Post”, que também já cobria o escândalo, o `NYT” recorreu à Suprema Corte e ganhou a causa.
Nos anos 1970, Sulzberger promoveu mudanças editoriais, ampliando as seções do jornal de duas para quatro e criou editorias de metrópole e negócios, além de criar novas, direcionadas para consumo. As mudanças atraíram novos leitores, em especial mulheres, e anunciantes. Das mudanças tem destaque também a compra bilionária de uma nova gráfica, o que viabilizou a criação de uma edição nacional e de edições especiais regionais, além do uso diário de fotografias e de infográficos coloridos.
Indústria
Quando deixou a diretoria do jornal, em 1997, afirma o obituário, `ele continuava convencido de que os jornais -ao menos os bons jornais- tinham um futuro brilhante”.
`Eu acho que o papel e a tinta vieram para ficar, no caso do tipo de jornais que fazemos”, ele disse, em uma entrevista concedida já durante a aposentadoria. `Não há falta de notícia no mundo. Se você quer notícia, você pode ir ao ciberespaço e tirar do meio deste monte de lixo. Mas eu não acho que a maioria das pessoas seja competente para se tornar editor, ou tenha tempo ou interesse para isso.”