Tsutomu Yamaguchi, a única pessoa oficialmente reconhecida como sobrevivente de duas bombas atômicas, morreu ontem no Japão, aos 93 anos, vítima de câncer no estômago, de acordo com os jornais “Mainichi”, “Asahi” e “Yomiuri”.
Yamaguchi estava em Hiroshima para uma viagem de negócios, em 6 de agosto de 1945, quando um B-29 dos Estados Unidos lançou uma bomba atômica sobre a cidade. Ele sofreu queimaduras graves na parte superior do corpo.
O japonês decidiu, então, retornar para sua cidade de origem, Nagasaki, a 300 quilômetros a sudoeste. Três dias depois, a cidade foi alvo do segundo ataque com uma bomba atômica norte-americana.
Em 15 de agosto de 1945, o Japão se rendeu, encerrando a Segunda Guerra. Foi o único país na história que sofreu ataques com bombas atômicas. Aproximadamente 140 mil pessoas morreram em Hiroshima e 70 mil em Nagasaki. Imediatamente após a guerra, Yamaguchi trabalhou como tradutor para as forças dos EUA em sua cidade natal e, posteriormente, como professor de ensino médio.
O prefeito de Nagasaki, Tomihisa Taue, disse que se perdeu “um excelente contador de histórias” com a morte. Taue divulgou hoje uma mensagem no site da prefeitura.
Yamaguchi era a única pessoa que o governo do Japão reconheceu oficialmente como presente nas duas cidades quando ocorreram os ataques, apesar de outros casos similares terem sido levantados. “Minha dupla exposição à radiação é agora um dado oficial do governo. Ela pode falar à geração mais jovem a horripilante história das bombas atômicas, mesmo depois de eu morrer”, contou ao jornal “Mainichi”, no ano passado.
Palestras
Em seus últimos anos, Yamaguchi realizou palestras sobre suas experiências como sobrevivente das bombas atômicas e demonstrava esperança de que esse tipo de armas fosse proibido. Ele falou nas Nações Unidas em 2006, escreveu livros e canções sobre o que passou, além de aparecer em um documentário sobre sobreviventes dos dois ataques.
Na semana passada, Yamaguchi foi visitado no hospital pelo cineasta James Cameron, diretor de “Titanic” e “Avatar”, que avalia a possibilidade de fazer um filme sobre os ataques nucleares, segundo o diário “Mainichi”.
Yamaguchi é uma das aproximadamente 260 mil pessoas que sobreviveram aos ataques. Alguns desenvolveram várias doenças por causa da radiação, incluindo câncer e moléstias no fígado. A certificação como um sobrevivente da bomba atômica no Japão concede às pessoas compensações do governo, incluindo pensões mensais, exames periódicos gratuitos e até os custos com funeral.