Considerado um dos principais intelectuais da Espanha no século XX, Francisco Ayala morreu hoje em Madri, aos 103 anos. A fundação que leva o nome do escritor confirmou a morte, ocorrida na casa dele, por causas naturais. “Ayala mantinha um estado de saúde bastante bom, até que, há poucos dias, começou a sofrer uma piora física generalizada que, finalmente, acabou com sua vida”, informou a Fundação Francisco Ayala. Ele será cremado na capital espanhola.
Nascido em 16 de março de 1906, na cidade andaluza de Granada, Ayala se destacou como romancista, sociólogo, estudioso da moral e crítico literário. Obteve os mais prestigiosos prêmios das letras espanholas, entre eles o Cervantes, em 1991, e o Príncipe de Astúrias, em 1998. Ayala publicou seu primeiro livro, “Tragicomédia de um homem sem espírito”, em 1925. Cinco anos depois, obteve o doutorado em Direito pela Universidade de Madri.
Sua vida foi marcada pelos horrores da Guerra Civil (1936-1939) e pela posterior ditadura de Francisco Franco. Quando começou o conflito em 1936, ele estava em Buenos Aires para uma série de conferências. Retornou para colaborar com o governo republicano, mas, três anos depois, os soldados de Franco entraram em Barcelona, encerrando a guerra.
Exílio
Ayala seguiu naquele momento o mesmo caminho de vários intelectuais espanhóis: o exílio na América. Passou a viver em Buenos Aires, ensinando Sociologia, além de fundar a revista “Realidade”, publicando autores argentinos e espanhóis, entre eles Jorge Luis Borges, Julio Cortázar e Juan Ramón Jiménez.
Em 1950, passou a viver em Porto Rico, fundando a respeitada revista “La Torre”. Cinco anos depois, começou uma temporada de duas décadas nos Estados Unidos, onde trabalhou nas universidades Princeton, Rutgers, de Nova York, no Bryn Mawr College, na Universidade de Chicago e ainda na Universidade da Cidade de Nova York.
Uma parte considerável de sua produção mais famosa aborda seus anos no exílio, incluindo “Os usurpadores”, de 1949, que examina a imoralidade de uma pessoa que submete outra. No mesmo ano publicou “A cabeça do cordeiro”, coletânea de relatos breves sobre a Guerra Civil.
Volta para casa
Ayala retornou em definitivo para a Espanha em 1975, ano da morte do ditador Franco. O colapso da ordem moral e a desesperança das relações humanas são também temas comuns em seus romances, pessimistas e satíricos. Entre suas obras mais célebres estão “Mortes de cão” e “O jardim das delícias”.
“A transição da Espanha (para a democracia), a reconstrução moral desse país, teria sido mais difícil se não houvesse sido inspirada pelo legado democrático que foi destruído pela Guerra Civil, mas que Francisco Ayala e outros como ele puderam conservar”, afirmou em uma ocasião o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero.
Em 16 de março de 2006, por ocasião do centenário do escritor, houve uma série de eventos, como conferências, seminários e exposições, para homenagear Ayala. As celebrações começaram com um almoço reunindo o escritor, o rei Juan Carlos e a rainha Sofía, na Biblioteca Nacional.