Ariel Sharon, ex-primeiro ministro de Israel, morreu neste sábado aos 85 anos. O ex-premiê estava em coma há oito anos, após sofrer um derrame em 2006. Nascido em fevereiro de 1927, em Kfar Malal, na Palestina (hoje Israel), Ariel Scheinermann, mais conhecido como Ariel Sharon, foi uma das figuras mais controversas e carismáticas de Israel desde a criação do Estado, em 1948.
Como famoso general israelense, Sharon ficou conhecido por suas táticas audaciosas e recusas ocasionais a obedecer ordens. Como político, ganhou a alcunha de “beligerante”, um homem que desprezava seus críticos e que era capaz de levar seus projetos até o fim. Proeminente voz linha-dura durante décadas, Sharon foi eleito primeiro-ministro em 2001 e reeleito em 2003. Ficou no cargo até 2006 quando sofreu um derrame e entrou em coma.
Ariel Sharon morreu neste sábado, mas já estava afastado da vida pública desde 2006, quando sofreu um forte acidente vascular cerebral (AVC) que o deixou em coma durante todos esses anos. Nos primeiros dias deste ano, médicos que cuidavam dele no hospital Hashomer, em Tel-Aviv, informaram uma piora no funcionamento dos órgãos vitais e uma infecção no sangue.
Sharon nasceu em um assentamento judaico no então território palestino administrado pelo Reino Unido, período conhecido como Mandato Britânico da Palestina. Seu pai era judeu de origem lituana e sua mãe uma judia de origem russa. Em 1942, aos 14 anos, ele entrou para uma força paramilitar formada por jovens, e mais tarde ingressou no Haganá, força paramilitar judaica clandestina que lutava pelo fim da administração britânica da Palestina.
Em 1948, Sharon comandou uma companhia de infantaria na Guerra da Independência e ficou ferido na batalha por Latrun, numa tentativa frustrada de libertar judeus sitiados em Jerusalém. Em 1949 foi promovido a comandante da companhia e em 1951 a oficial de inteligência. Após a Guerra, Sharon foi estudar História e Cultura do Oriente Médio na Universidade Hebraica em Jerusalém.
Em 1953, criou e comandou um grupo de elite conhecido como Unidade 101. O grupo realizou uma série de ataques contra os vizinhos palestinos, o que trouxe mais confiança a Israel e fortaleceu sua resistência. Entretanto, a unidade também foi criticada por ter atacado civis e soldados palestinos, no conhecido episódio do massacre de Qibya, no outono de 1953, quando cerca de 60 civis palestinos foram mortos na Cisjordânia.
Com o passar dos anos, Sharon foi sucessivamente promovido até tornar-se general durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Dois anos depois, ele assumiu o controle do Canal de Suez durante a Guerra de Atrito em 1969.
Sharon deixou a vida militar em 1973 e começou a investir em sua carreira política ao ajudar a fundar o Partido Likud. Neste mesmo ano, voltou ao Exército para atuar na Guerra de Yom Kippur e posteriormente foi eleito membro do Knesset (Parlamento), mas renunciou ao cargo um ano depois. Em 1975, assumiu o posto de assessor de segurança do então primeiro-ministro Yitzhak Rabin e em 1977 foi reeleito para o Knesset.
Em 1981, Sharon assumiu o cargo de ministro da Defesa e passou a apoiar e incitar os cristãos contra os muçulmanos no Líbano, com o objetivo de transformar o país em um posto avançado de Israel. Um ano depois, Sharon planejou a invasão do Líbano, mas perdeu o cargo de ministro da Defesa e foi acusado por negligência ao ter permitido que falangistas libaneses maronitas invadissem dois campos de refugiados palestinos – Sabra e Shatila – situados em área controlada pelo exército israelense. As milícias entraram nesses campos e mataram indiscriminadamente centenas de homens, mulheres e crianças, num massacre que entrou para a história.
Embora um escândalo desta proporção possa destruir a carreira política de muitos, Sharon continuou na vida política fazendo parte de sucessivos governos. Foi ministro de várias pastas, entre elas, da Agricultura, da Indústria e Comércio, da Construção e Habitação, ministro da Infraestrutura e de Relações Exteriores.
Em 1999, ele se tornou presidente do Partido Likud, o que impulsionou sua vitória nas eleições como primeiro-ministro em fevereiro de 2001 e foi reeleito em 2003.
Conhecido como fervoroso partidário da colonização israelense de territórios palestinos, em 2005 o novo líder de Israel surpreendeu o mundo ao organizar a retirada unilateral dos judeus da Faixa de Gaza e o desmantelamento das colônias instaladas na região, após 38 anos de controle militar por Israel.
Embora essa retirada tenha sido vista, a princípio, como uma vitória da resistência palestina contra a ocupação israelense, alguns analistas consideram a desocupação da Faixa de Gaza como um movimento estratégico de Israel, visando manter o controle da Cisjordânia e evitar que um eventual ataque aéreo israelense a Gaza – tal como efetivamente ocorreu depois, durante a Operação Chumbo Fundido – pudesse atingir assentamentos judeus e cidadãos israelenses.
A implementação do plano de retirada foi vista como um sucesso pela maioria do povo de Israel, mas resultou em protestos de ministros do Likud, que levaram Sharon a deixar o partido e fundar nova agremiação de centro, o Kadima, em novembro de 2005.
Em dezembro do mesmo ano, no entanto, o primeiro-ministro israelense sofreu um pequeno derrame. Na ocasião, os médicos afirmaram que o líder não havia sofrido lesão cerebral grave irreparável. Mesmo assim, em 4 de janeiro de 2006, Sharon teve um novo acidente vascular cerebral que o deixou em coma. O primeiro-ministro de Israel foi então declarado “permanentemente incapacitado” e substituído por Ehud Olmert.
Conhecido como “Arik” entre os amigos, o premiê israelense foi casado duas vezes. Sua primeira mulher, Margalith, morreu em um acidente de carro em 1962. Com ela, Sharon teve um filho, Gur, que morreu em 1967 aos 11 anos com um tiro acidental enquanto ele e um amigo brincavam com um rifle do pai. Em 1963, Sharon casou-se com a sua cunhada Lily, irmã mais nova de Margalith, mãe de seus dois outros filhos Omri e Gilead. Lily morreu de câncer em 2000. Sharon tem três netos.