O presidente da Bolívia, Evo Morales, instou nesta quinta-feira (24) aos cidadãos e às Forças Armadas que defendam a unidade do país, e o comandante da Força Naval pediu, por sua parte, que as diferenças políticas "conjunturais" sejam deixadas de lado.
Ainda que nenhum dos dois tenha incluído menções específicas, ambos fizeram seus chamados quando situação e oposição estão em confronto em conseqüência do referendo marcado para 4 de maio sobre o estatuto autônomo de Santa Cruz, a principal região econômica do país.
"Faço um chamado a todo o povo boliviano, incluindo as Forças Armadas, a defender a unidade do país", frente às "tentativas separatistas de pequenos setores que não querem perder seus privilégios", disse o presidente Morales esta manhã.
O projeto autônomo, proposto pela oposição, é reflexo de um confronto político-econômico em torno do projeto do país.
Morales falou aos comandos militares durante um ato do 45º aniversário de criação da Escola Naval, no qual destacou também a riqueza dos recursos naturais da Bolívia.
O comandante da Força Naval, vice-almirante José Luís Cavas, disse por sua parte: "Deixemos de lado novas diferenças e construamos um futuro unidos, uma vida melhor para nossos filhos. A pátria é eterna, reitero, é eterna, e nós, pessoas e nossas diferenças, somos passageiros".
Cavas pediu "paz, tolerância e diálogo permanente" e afirmou que "as Forças Armadas estão com o povo. As Forças Armadas são o povo. Unidos monoliticamente sob a nossa bandeira, defenderemos a unidade toda a vida".
O governo considera ilegal o referendo em Santa Cruz porque a Constituição vigente não contempla a figura de autonomias departamentais, e acusa seus promotores de buscar a divisão do país.
O governismo exige que esse estatuto se ajuste ao seu projeto de nova Constituição, que contempla a figura das autonomias departamentais.
Dirigentes da oposição de Santa Cruz rejeitam a iniciativa de Morales porque consideram que criar também autonomias municipais, regionais e de povos originários tiram as atribuições e faculdades das departamentais.
Além de Santa Cruz, também convocaram a consultas populares com o mesmo propósito os governos departamentais de Tarija, Beni e Pando, nos quais venceu o ‘sim’ em um referendo sobre autonomias em 2006, no qual o governo postulou o ‘não’ e conseguiu a vitória com a apuração nacional.
Até o momento também resultaram frustrados os esforços da Igreja católica para iniciar o diálogo entre ambas partes para se chegar a um consenso sobre as mudanças constitucionais.
A oposição é contra o projeto oficial com o argumento de que expressa apenas a posição política do Movimento ao Socialismo, no governo. O governo se diz disposto a discutir mudanças, mas até agora não se dispôs a dialogar.
