Após sair vitorioso nas eleições de domingo na Bolívia, o presidente Evo Morales adotou ontem um tom mais conciliador no campo da política externa, afirmando que deseja ter boas relações com “todos os países do mundo”. O líder boliviano ainda elogiou o colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, a quem qualificou de “o melhor presidente da América Latina”, e garantiu que os tempos de confronto com o País sobre o gás natural ficaram para trás.
A mudança no discurso de Evo, segundo analistas, seria um dos indícios de que hoje – com a economia debilitada por falta de investimento no setor de hidrocarbonetos, nacionalizado em 2006 – a Bolívia tornou-se mais dependente do Brasil.
“A importância do mercado brasileiro para a Bolívia é enorme, porque somos os principais importadores do gás boliviano”, afirmou o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. “Se colocarmos na balança os resultados das nacionalizações fica evidente que a Bolívia perdeu muito mais que o Brasil e hoje eles dependem muito mais de nós do que nós deles.” Segundo projeção da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos, a economia do país deve perder este ano mais de US$ 1 bilhão por causa da queda nas exportações de gás natural.
Para o economista e cientista político Gonzalo Chávez, da Universidade Católica da Bolívia, o principal desafio da nova administração é saber aproveitar melhor as relações com o Brasil. “Bolívia e Brasil compartilham uma fronteira de mais de 3 mil quilômetros e Evo tem de saber explorar essa proximidade, apostando no desenvolvimento local”, disse Chávez. “A Bolívia não tem só gás para exportar e o governo poderia investir mais no turismo e na manufatura de outros produtos.”