O chefe do Gabinete Civil da Argentina, Alberto Fernández, afirmou nesta quarta-feira (19) que o governo do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, transformou "em vítima" o acusado de ter tentado entrar na Argentina com uma maleta contendo US$ 800 mil, que promotores americanos disseram seria usado na campanha eleitoral da presidente Cristina Kirchner. "A pior conseqüência disso tudo é que o perseguido na Argentina foi convertido em vítima. Os Estados Unidos, por motivos confusos, convertem o principal acusado em uma vítima de extorsão", afirmou o ministro à Radio Mitre.
Em um aprofundamento na deterioração das relações entre os dois países em torno da apreensão em agosto em Buenos Aires da maleta com o empresário venezuelano-americano Guido Antonini Wilson, o ministro Fernández lembrou que nos EUA "os promotores são dependentes do governo", numa referência ao promotor de Miami Thomas Mulvihill, que fez a acusação contra a presidente argentina. O promotor sugeriu que o dinheiro teria sido enviado pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Pouco depois de assumir o cargo, em 10 de dezembro, Cristina Kirchner classificou a acusação de "operação lixo" e "manobra da inteligência", e ontem, na reunião de cúpula do Mercosul em Montevidéu, afirmou que existem aqueles que "fazem apenas operações sujas e políticas sujas" na região. O ministro Fernández rechaçou também considerações de funcionários do governo Bush e do embaixador americano em Buenos Aires, Earl Anthony Wayne, de que trata-se de um assunto policial que não deve afetar as relações bilaterais.
"Nos Estados Unidos, os promotores são dependentes do Poder Executivo", disse o ministro, acrescentando que o incidente constitui "uma ofensa porque a Justiça argentina estava investigando e havia pedido a extradição do principal implicado (Antonini Wilson)". A Justiça de Miami investiga uma suposta tentativa de extorsão feita por quatro "agentes ilegais" do governo venezuelano contra Antonini Wilson. Os "agentes" estão detidos e sendo acusados de terem tentado comprar o silêncio do empresário. O chanceler Jorge Taiana recebeu ontem o embaixador Wayne e expressou "o mal-estar e desagrado" do governo com os episódios em Miami.