A queda de braço entre manifestantes que exigem a renúncia do presidente do Egito, Hosni Mubarak, e as Forças Armadas do país se tornou mais tensa ontem, com a aparente disposição dos militares de apertar as medidas para contar os protestos. Jornais independentes já falam em 150 mortos, mais de 1,6 mil detidos, cerca de 100 desaparecidos e a formação de milícias por toda a cidade do Cairo, diante do caos generalizado.
No começo da madrugada de hoje, as trocas de tiros se intensificaram pela cidade. Pouco após a 0h30, fortes explosões eram ouvidas. Segundo as autoridades, houve um confronto na região leste do Cairo, entre detentos fugidos do sistema prisional e a polícia. O conflito durou pouco mais de uma hora. Na Praça Tahrir, epicentro da crise, manifestantes desafiaram o toque de recolher ontem e permaneceram no local pelo sexto dia consecutivo. Durante o dia, caças da Força Aérea faziam voos rasantes, buscando um efeito psicológico nos ativistas.
O presidente não deu nenhum sinal de ceder ou de estar pensando em deixar o poder. “O que vemos nas ruas é o fim da legitimidade do governo Mubarak”, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo Mahmoud Abazzo, presidente do principal partido de oposição, El Wafd. Para ele, o perigo é de que, a partir de agora, a violência no Cairo saia do controle tanto dos manifestantes como do governo. “O futuro do Egito continua em suspense e nosso temor é de que haja um grande banho de sangue.”
Para a população, a nomeação de um vice-presidente e de um primeiro-ministro, ambos das bases militares do governo, mostrou que Mubarak não pensa em sair do poder, mas apenas acomodar os militares dentro da estrutura do governo e garantir a aliança com os generais. Nas ruas de algumas cidades, porém, alguns militares já eram vistos ontem abandonando seus tanques dizendo que não cumpririam ordens de reprimir a população. Entre os manifestantes, a ordem era resistir. Do lado do governo, a ordem foi mostrar força total.