Uma após a outra, as sobreviventes de um estupro em massa ocorrido no Congo resgataram perante um painel de juízes as lembranças da violência sofrida: uma mulher recém casada exibiu as roupas rasgadas e ensanguentadas; uma mãe de seis filhos caiu de joelhos, levantou os braços e implorou pela paz. Ao todo, 49 mulheres recontaram suas histórias durante o julgamento que terminou hoje com a condenação de um tenente-coronel do exército a 20 anos de prisão por crimes contra a humanidade.
O julgamento do tenente-coronel Mutuare Daniel Kibibi é considerado um marco na história da República Democrática do Congo, onde calcula-se que milhares de mulheres sejam violentadas todos os anos por soldados por milicianos que na maior parte dos casos passam impunes. Esta foi a primeira vez que um oficial de comando foi levado a julgamento por esse tipo de crime.
A promotoria pediu ao júri que condenasse Kibibi à morte pela acusação de ter ordenado a seus soldados que atacassem, na noite de Ano-Novo, o povoado de Fizi, 35 quilômetros ao sul de Baraka, em uma região montanhosa do Congo coberta por bananeiras.
Depois do ataque ocorrido na virada do ano, médicos trataram 62 mulheres vítimas de abusos sexuais. É provável, porém, que o número real de vítimas do ataque jamais venha a ser conhecido, uma vez que novas vítimas têm aparecido com frequência. As 49 mulheres que aceitaram depor receberão indenização equivalente a cerca de R$ 16.500. A identidade delas não foi revelada. As informações são da Associated Press.