Milhares de detentos fugiram de prisões no Egito, em meio a protestos que já mataram mais de 150 pessoas. Durante os protestos populares, outros três manifestantes morreram no Cairo e três policiais foram mortos em Rafah neste domingo. Ontem, foram mortas 33 pessoas, segundo fontes médicas, e o balanço oficial estava em 102 mortes desde a terça-feira. Neste domingo, a emissora de televisão Al-Jazira, do Catar, informou que pelo menos 150 pessoas foram mortas no Egito desde o início da rebelião popular contra Mubarak. O regime de Mubarak, que no sábado nomeou o ex-chefe da espionagem, Omar Suleiman, como vice-presidente, parece preparar uma onda de repressão policial contra os manifestantes, uma vez que a polícia está voltando para os centros das maiores cidades.
Enquanto isso, líderes da oposição, incluído o prêmio Nobel da Paz de 2005 e ex-dirigente da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohammed ElBaradei, tentam negociar com o exército a queda de Mubarak e a formação de um governo de transição. “As tentativas de Mubarak são apenas um ato desesperado para ficar no poder. Estou disposto a chefiar um governo de transição”, disse ElBaradei, em entrevista ao jornalista Fareed Zakaria, da emissora americana CNN.
O exército tomou conta das principais avenidas e vias de acesso ao Cairo, Alexandria e Suez, enquanto Mubarak estendeu o toque de recolher nesses cidades, das 15h deste domingo às 8h da manhã de segunda-feira. O ministro do Interior, Habib Al-Adly, disse que ordenou às forças policiais que voltem às ruas e trabalhem com o exército para restaurar a ordem. “É necessário que o papel da polícia seja rapidamente restaurado e que ocorra cooperação em campo com as Forças Armadas”, disse al-Adly. Centenas de policiais foram enviados ao centro do Cairo.
Pouco antes da entrada em vigor do toque de recolher, dois caças da Força Aérea fizeram voos sobre a praça Tahrir, onde cinco mil pessoas estavam reunidas em protesto na noite deste domingo.
A rede estatal de TV do Egito disse que as autoridades decidiram fechar os escritórios no Cairo da rede Al-Jazira e suspenderam as credenciais dos repórteres, sem citar motivos para a decisão. No passado, as autoridades locais acusavam a cobertura no Egito como sensacionalista e enviesada contra o regime de Mubarak. A rede Al-Jazira, do Catar, protestou contra a decisão e afirmou que continuará a cobrir a crise política no Egito.
Diante da pilhagem crescente durante os protestos, diversos egípcios acreditam que a polícia libertou deliberadamente os prisioneiros para ampliar o caos e enfatizar a necessidade de forças de segurança. Há o registro de que gangues armadas libertaram militantes muçulmanos no país, ao atacarem pelo menos quatro prisões antes da madrugada deste domingo, ajudando a libertar centenas de militantes muçulmanos e milhares de outros detentos, enquanto a polícia desaparecia das ruas do Cairo e outras cidades.
A embaixada dos Estados Unidos no Cairo disse aos cidadãos para considerarem deixar o Egito o mais rápido possível e autorizou a partida de dependentes e empregados que não fazem parte da equipe de emergência, em uma manifestação da preocupação crescente de Washington quanto à estabilidade no país aliado. Governos da França, Alemanha e Itália recomendaram a seus cidadãos que não visitem o Egito, enquanto o governo grego enviou um avião o Cairo para retirar turistas que estão na capital egípcia.
O Exército enviou centenas de soldados adicionais e veículos blindados para as ruas do Cairo e de outras cidades, mas parece tomar pouca ação contra gangues de jovens armados e com bastões que danificavam carros e roubavam pessoas. Pelo menos um shopping no Cairo foi incendiado depois de ser pilhado nos dias anteriores.
O presidente Hosni Mubarak nomeou o chefe da Inteligência, Omar Suleiman, para o cargo de vice-presidente, no sábado, mas os manifestantes dizem que querem a renovação completa da administração. Cerca de quatro mil manifestantes entoavam frases contra Mubarak. Helicópteros do exército voavam baixo sobre o Cairo.
Oficiais de segurança disseram que homens armados trocaram tiros com guardas durante horas nas quatro prisões, resultando na fuga dos presos. Entre os que fugiram das prisões estão 34 membros da Irmandade Muçulmana, o maior e mais bem organizado grupo da oposição. Entre estes estavam pelo menos sete membros graduados do grupo.
Os oficiais de segurança do Egito disseram que diversos detentos foram mortos e feridos, mas não deram números específicos, e falaram sob a condição de anonimato. As informações são da Dow Jones, Associated Press e Agência Ansa.