Em uma clara demonstração de conflito de poderes na Argentina, o vice-presidente do Banco Central, Miguel Angel Pesce, assumiu, nesta manhã, o controle da autoridade monetária. Por decisão da diretoria do BC, lavrada em ata na última sexta-feira, Pesce chegou esta tarde à sede do BC para assumir a presidência interina da instituição. Miguel Redrado, que foi exonerado por decreto, mas mantido no cargo por liminar da Justiça em primeira e segunda instância, está proibido de entrar no edifício por ordem assinada pelo próprio Pesce.
Ao sair de sua casa hoje de manhã, Redrado evitou responder às perguntas dos jornalistas relacionadas à situação, mas fez comentários sobre a decisão do tribunal de alçada, na sexta-feira, de não permitir o uso das reservas internacionais para pagar dívida do Tesouro. “O Congresso Nacional, a Justiça e o BC têm protegido as reservas e a tranquilidade da economia argentina”, disse Redrado. Ele também considerou que transferir para o Congresso a discussão do decreto que cria o fundo com as reservas, assim como o que o exonera do cargo, “é uma oportunidade importante para deixar a crise para trás”.
Ontem à noite, no entanto, após ter sido barrado na porta do BC, Redrado lançou a advertência de que vai partir para o ataque. “Se até hoje não me defendi, agora passo ao ataque. Tenho as listas específicas dos amigos do poder que compraram dólares”, afirmou Redrado ao jornal Clarín, mas sem oferecer detalhes de nomes e ocasiões. O chefe de Gabinete da Presidência, Aníbal Fernández, respondeu com outra ameaça. “Todo funcionário público tem a obrigação de denunciar quando encontra um fato destas características. Se não faz a denúncia pertinente, nós vamos processá-lo por ter acobertado informações”, disparou Fernández em entrevistas às rádios portenhas.
O líder governista na Câmara, Agustin Rossi, também indicou o caminho que a briga entre o Governo e Redrado vai seguir: “Se ele tinha alguma dúvida sobre as operações, tinha de ter ido à Justiça no mesmo dia. Se não foi, é por está encobrindo algo”, disse Rossi.