Um cãozinho de companhia, bastante popular no Brasil na década de sessenta, dificilmente é visto nos dias atuais. Reconhecido pelos pêlos compridos e com franjas abundantes, pelo nariz achatado e pelos olhos grandes, salientes e levemente afastados, o pequinês foi vítima de um processo de mestiçagem desenfreada que o descaracterizou – de forma física e comportamental – e o fez praticamente desaparecer a partir do final da década de setenta.
"Foi justamente a popularidade que estragou a raça", comenta Patrícia Carvalho, proprietária do canil Solar Deti, de Porto Alegre (RS), há sete anos especializado na criação de pequinês. "Com a mestiçagem, o cão, que na verdade é bastante dócil, se tornou bravo e agressivo. As pessoas começaram a promover cruzamentos sem selecionar as raças e os próprios indivíduos. A partir daí, o pequinês ficou com má fama e muita gente deixou de adquiri-lo."
Hoje, há um esforço muito grande de criadores espalhados pelo País em fazer com que o animal volte a fazer parte do cotidiano das pessoas. Alguns exemplares de pequinês estão sendo trazidos de países como Canadá, Holanda, Inglaterra e Estados Unidos e dando novo fôlego à raça em território nacional. "Destes países, são trazidos os legítimos representantes da raça."
O surgimento do pequinês é repleto de mistérios e lendas. Uma delas diz que o cão teria nascido do amor impossível entre um leão e uma macaquinha, herdando características físicas e de personalidade de ambos. Na verdade, o pequinês surgiu na China, mas existem controvérsias sobre a data precisa. Com a introdução do budismo, passou a ser considerado um cão sagrado, sendo chamado "leão de Buda". Os representantes da raça eram adorados e guardados cuidadosamente pelos imperadores chineses, sendo que o roubo de um animal podia ser punido com morte mediante lenta tortura.
Apenas no final do século XIX o cãozinho chegou ao Ocidente. Ele foi trazido por soldados britânicos e franceses, rapidamente ganhando popularidade e admiração. Atualmente, devido à raridade, um macho puro, adquirido como animal de estimação, custa entre R$ 600,00 e R$ 800,00. Já um adquirido para exposição e acasalamento sai de R$ 1.600,00 a R$ 2.000,00. As fêmeas, independente da finalidade com que são criadas, podem ser encontradas em canis especializados com preços a partir de R$ 1.200,00.
Considerado um cachorro com personalidade parecida com a dos gatos, o pequinês é um animal tido como temperamental e independente. Geralmente é um pouco desconfiado com estranhos, mas bastante dócil com os proprietários. "É um erro dizer que o pequinês é um cão bravo. Ele é um cachorro muito educado e quieto. Quando filhote, é muito brincalhão. Depois de adulto, é bastante sossegado", afirma Lenise de Mello Reis, proprietária do canil Rio Iguaçu, de Curitiba, que, entre outras raças, comercializa alguns exemplares de pequinês.. "Por suas características, o pequinês é um cão bastante indicado para quem vive em apartamento e como companhia para pessoas idosas, não sendo o mais ideal para convivência com crianças."
O pequinês também é considerado um cão bastante limpo. Ao contrário de outras raças de pêlo longo, ele não necessita de tosa total, o que também o torno um animal econômico. Na maioria das vezes, os proprietários só o submetem periodicamente à tosa higiênica.
Quem adquire um animal da raça não faz troca
Passada a desconfiança, quem adquire um pequinês geralmente fica fã da raça e não a troca por nenhuma outra. É o caso da dona de casa Tereza de Oliveira, 58 anos, que vive em Ponta Grossa (PR). Ela, que já teve basset e vira-lata, cuida de uma fêmea de pequinês, carinhosamente chamada de Fifi, há dez anos. "Peguei a cachorrinha para criar quando ela não tinha ainda nem um mês de vida. Apesar de ela ser um pouquinho desconfiada com estranhos, foi a raça com a qual melhor me adaptei", conta. "A Fifi é bastante calma e higiênica, tanto que dorme dentro de casa. Depois que ela morrer, vou querer outra da mesma raça."
Mesma opinião tem o comerciante Adelino Lopes, 66 anos, que vive em Rio do Sul (SC) e tem um pequinês macho chamado Argo, de seis meses de idade. "Eu não conhecia o cachorro, mas agora que tenho um, ele virou meu preferido. Já tive poodle e pintcher, mas descobri que o pequinês é bem mais calmo e carinhoso, além de pouco dar despesa."
Já a dona de casa Mariuldina Leinecker Santos, de 60 anos, que vive em Curitiba, tem nada menos do que três cães da raça, dois adultos (o macho Billy e a fêmea Laika) e um filhote (o macho Baby, que está com oito meses). "São cães muito obedientes e carinhosos. O macho é tão apegado a mim que demonstra bastantes ciúmes quando alguém me abraça ou chega muito perto. Os três são muito engraçadinhos e, entre eles, extremamente brincalhões." (CV)
Problemas oculares são relativamente comuns
O pequinês, como os cães de quase todas as raças, é um animal que tem predisposição a alguns problemas de saúde específicos. Devido aos olhos grandes e salientes, os problemas oculares são relativamente comuns entre os indivíduos.
"O pequinês tem pré-disposição a ter problemas de pálpebras, ulcerações de córnea e má produção de lágrimas. Todos podem levar à cegueira se não tratados", explica o médico veterinário João Alfredo Kleiner, especialista em oftalmologia animal. "Também são comuns traumas oculares resultantes de brigas. Por isso, não é indicado deixar o cão na companhia de outros maiores ou na de gatos."
Como outros cachorros pequenos, o pequinês tem maiores chances de ter problemas de coluna. Muitos representantes da raça possuem o disco intervertebral (que separa as vértebras) mais frágil na parte dorsal. Quando acontece de este disco se romper, o material que existe dentro gera compressão da medula espinhal, o que resulta em dores e paralisia dos membros posteriores. A solução do problema se dá através de cirurgia para retirada do material responsável pela compressão.
Em caso de gestação, como a bacia do pequinês é muito estreita, o veterinário diz que as fêmeas da raça têm dificuldades em ter um parto normal. Desta forma, são comuns os nascimentos de filhotes por cesariana. (CV)