Muito antes da morte de Osama bin Laden, a Al-Qaeda se adaptou para sobreviver e operar sem ele, garantindo que a ameaça do terrorismo continuasse após seu falecimento. Depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, Bin Laden passou a última década fugindo. Mas a sua posição de fugitivo não tirou o poder da rede terrorista.

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Em vez disso, forçou sua evolução: o grupo original se espalhou, surgindo em novos lugares com novos líderes que, além de tentarem realizar ataques complexos, encorajaram seus seguidores a atacar por conta própria.

Dessa forma, ramificações da Al-Qaeda existem não só em lugares mais óbvios como Iêmen, Somália e Indonésia, mas crescem em locais mais distantes e não tradicionais, como a Suécia e a Noruega. Os líderes desses grupos consideram Bin Laden um líder religioso e filosófico, mas têm trabalhado independentemente do seu comando há tempos.

Os últimos anos têm sido de “rápida descentralização das operações da Al-Qaeda”, analisa Toby Feakin, diretor de um grupo de estudos de defesa do Instituto de Serviços Reais, com sede em Londres, na Inglaterra. Enquanto “um capítulo acabou” para a Al-Qaeda com a morte de Bin Laden, diz Feakin, a história completa está longe de terminar.

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O legado de Bin Laden é muito grande para ser apagado rapidamente. Seu grupo terrorista tinha menos de 200 membros antes dos ataques de 11 de Setembro, mas hoje é muito maior e mais abrangente.

O comando de Bin Laden saiu do Afeganistão em 2001, depois da queda do Taleban, e muitos membros importantes foram capturados ou mortos após a invasão americana. Khalid Sheikh Mohammed, principal arquiteto dos ataques de 11 de setembro, foi capturado em 2003 e agora é um prisioneiro na baía de Guantánamo. O comandante militar da Al-Qaeda, Mohammed Atef, foi morto em um ataque de mísseis em Cabul em novembro de 2001. O líder de montagem de bombas Abu Khabab al-Masri morreu em um ataque de mísseis no Paquistão em 2008.

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Enquanto a velha guarda da Al-Qaeda ia sendo dizimada, Bin Laden e Ayman al-Zawahri, segundo no comando, ficaram isolados e impedidos de planejar em grande escala. Mas seu afastamento só serviu para difundir as operações terroristas para mais grupos e pessoas que continuaram a missão da Al-Qaeda no Oriente Médio, na África, no Sudeste Asiático e na Europa.

A ramificação mais poderosa e ativa é a Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP, pela sigla em inglês), liderada por Nasser al-Wuhayshi, ex-secretário de bin Laden no Afeganistão que escapou para o Irã, foi preso e depois extraditado ao Iêmen em 2003. Ele escapou da prisão em 2006 e encabeçou a fusão dos braços sauditas e iemenitas da Al-Qaeda em 2009.

Mais do que qualquer outro grupo, a AQAP serve de ligação entre as ramificações da Al-Qaeda em outras regiões. Wuhayshi recebe apoio de Anwar al-Awlaki, clérigo radical nascido nos Estados Unidos famoso por seus sermões via internet e que age como um recrutador chave.

Supõe-se, por exemplo, que Awlaki tenha se encontrado com Umar Farouk Abdulmutallab, o nigeriano que estudava no Iêmen antes de tentar explodir um avião de passageiros americano no natal de 2009. O alcance do clérigo também chega a lugares como a Grã-Bretanha, onde um júri condenou um ex-engenheiro de software da British Airways de planejar com Awlaki o uso de seu trabalho para realizar atos terroristas.

Os novos líderes da Al-Qaeda no Iêmen superaram seu padrinho ao adaptar sua mensagem ao público ocidental. A AQAP usa a tecnologia para atingir seu objetivo. Publica uma revista online chamada “Inspire” – em parte fanzine, em parte ferramenta de recrutamento, que dá conselhos e instruções para aspirantes a homem-bomba.

A mensagem subliminar é a de que os novos recrutas não precisam de treinamento militar no Paquistão ou no Iêmen para acertar o “inimigo longínquo”, denominação usada pela Al-Qaeda para designar os Estados Unidos e outros países ocidentais. E os convertidos ao radicalismo não pedem permissão ao quartel general antes de agir. No ano passado, por exemplo, uma britânica que a polícia afirmou ter sido influenciada por Awlaki foi condenada por esfaquear um político.

Na África, a Al-Qaeda e seus afiliados encontraram refúgio em recantos sem lei do continente, da Somália ao leste, até Mali, no oeste. Os grupos incluem a Al-Qaeda da Argélia no Magreb Islâmico (AQIM, pela sigla em inglês), que está ligada a vários assassinatos e sequestros de ocidentais nos últimos anos. Funcionários da segurança nigeriana disseram que muitos membros de um grupo radical islâmico chamado Boko Haram, no norte do país, receberam treinamento nos campos terroristas argelinos e que a região pobre continua funcionando como local de recrutamento da AQIM.

As células parecem ter pouca conexão, mas já mostraram do que são capazes – como no ataque frustrado envolvendo o nigeriano Abdulmutallab e os três ataques suicidas em julho de 2010, em restaurantes na capital de Uganda, Kampala, enquanto o público assistia à Copa do Mundo.

O grupo terrorista Al Shabaab, com sede na Somália, e também ligado à Al-Qaeda, assumiu a autoria dos três ataques suicidas em Kampala, que mataram mais de 80 pessoas. Militantes estrangeiros de locais como Afeganistão e Paquistão entraram na Somália nos últimos anos e se juntaram às forças locais para tentar derrubar o governo a favor do Ocidente. No Sudeste Asiático, veteranos da operação da Al-Qaeda no Afeganistão ajudaram no estabelecimento de franquias em países como a Indonésia.

Com o passar do tempo, esses grupos discrepantes se tornaram cada vez mais autônomos, frequentemente trabalhando com financiamento mínimo ou financiados por simpatizantes, totalmente independentes da principal liderança da Al-Qaeda. Em alguns aspectos, isso aumentou sua eficácia, dizem analistas de segurança e funcionários de governos.

“Ficou mais difícil rastrear o que os militantes estão planejando, porque eles passaram a trabalhar em células menores com o passar do tempo”, disse um funcionário de segurança regional.

Ao enfrentarem ações de segurança mais severas, os grupos recentemente desistiram dos ataques em grande escala, como aquele em uma boate em Bali em 2002, que matou 202 pessoas. Em vez disso, eles agora se focam em alvos menores, como hotéis e embaixadas ocidentais. As informações são da Dow Jones.