A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciaram nesta terça-feira que proporão a criação de um orçamento comum para a zona do euro e consentiram sobre a necessidade de fortalecer as fronteiras externas da União Europeia e combater a imigração ilegal.
Os dois principais líderes da União Europeia se encontraram na cidade de Meseberg, no Estado alemão de Brandenburgo, em busca de compromissos que atendem tanto aos desejos do francês de reformar o bloco econômico e monetário como ao esforço da democrata-cristã para solucionar o impasse sobre imigração que ameaça a unidade do seu governo em Berlim (veja nota publicada ontem, às 17h48).
Em coletiva de imprensa após a reunião, a chanceler reforçou a intenção de fortalecer as fronteiras externas da UE – ela se opõe ferrenhamente à ideia de instalar controles nas fronteiras internas -, com uma elevação “significativa” do número de agentes da Frontex, como é chamado o órgão europeu encarregado da fiscalização nas divisas.
“A segurança na UE precisa ser mais integrada, em um mundo que muda rapidamente”, afirmou Merkel. “Temos de responder aos atuais desafios com uma resposta europeia. Temos de evitar uma situação em que a Europa se divida.”
Outra exigência da alemã é que as diferentes políticas nacionais para pedidos de asilo por imigrantes sejam “igualadas” em toda a UE. “Temos de reduzir a imigração ilegal e ter mais abertura à imigração (legal) em busca de estudo, de qualificação”, sublinhou.
Questionada sobre qual seria sua resposta à afirmação no Twitter pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que “o povo da Alemanha está se virando contra sua liderança com a migração sacudindo a já frágil coalização de Berlim” e “o crime na Alemanha está em grande alta”, Merkel comentou que as estatísticas de violência falam por si. No mais recente relatório do Ministério do Interior – cujo titular, Horst Seehofer, está no centro da crise interna alemã -, dados apontam que a criminalidade no país está no nível mais baixo em 26 anos.
Orçamento europeu
De um púlpito ao lado da chanceler, Macron garantiu estar determinado a coordenar políticas migratórias na UE, e classificou o acordo de hoje com Berlim por medidas na imigração e pelo orçamento na zona do euro como “uma nova página na história” do bloco.
Desejo antigo do francês, o orçamento comum da zona do euro poderia entrar em vigor a partir de 2021, de acordo com o próprio presidente. Merkel disse que a dupla se esforçaria pela instituição do orçamento europeu “no médio prazo”. Os dois chefes de governo reconheceram, contudo, não haver ainda um consenso sobre quais seriam as fontes de recursos que abasteceriam a rubrica.
Entre as funções do orçamento comum estariam investimentos, como em “capital humano”, segundo a alemã, e o alcance de mais “convergência” entre os países da zona do euro.
Outra novidade anunciada em Meseberg foi a proposta conjunta de uma nova linha de crédito do Mecanismo de Estabilidade Europeu (ESM, na sigla em inglês).
Merkel prometeu expandir o ESM, em um movimento que incluiria avaliações preventivas da situação fiscal de países da zona do euro. Ainda sobre esse assunto, a alemã manifestou a esperança de que a Grécia possa anunciar o fim de sua dependência do programa de resgate da UE já na próxima cúpula do bloco, em 29 e 30 de junho. “Temos de fazer a zona do euro à prova de crises”, ressaltou.
Além de concordar com Macron sobre a necessidade de um mecanismo financeiro de emergência comum na zona do euro, ela também destacou ser importante trabalhar com a França em busca de uma “base comum” de impostos corporativos.
Em rápida passagem pelo comércio global, Merkel afirmou que, se não houver mais investimentos no mercado tecnológico e digital da UE, o bloco não conseguiria “competir com os EUA e a China”.
Por fim, a democrata-cristã declarou estar “otimista” sobre a possibilidade de parlamentares alemães apoiarem as medidas propostas em conjunto com Macron.