O ex-presidente Carlos Menem sofreu a mais fragorosa derrota de sua longa carreira política. "El Turco", como é conhecido popularmente, ficou em terceiro lugar nas eleições realizadas ontem em sua província natal, La Rioja. Menem só conseguiu 22% dos votos na província que controlou com mão-de-ferro por três décadas. O primeiro colocado, um aliado do presidente Néstor Kirchner, foi Luis Beder Herrera, o atual governador, reeleito com 39% dos votos. O segundo colocado foi Ricardo Quintela, com 25%, que também é um aliado de Kirchner.

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Menem, ao ser informado da derrota, comentou carrancudo: "as urnas falaram. Nós, democratas, temos que saber ouvi-las". Horas antes, ele ainda alardeava que ganharia "de goleada".

Analistas afirmam que esta eleição marcou o fim de uma era. Segundo eles, é irreversível o declínio político de Menem, caudilho que marcou a política argentina nos anos 80 e 90. Os analistas afirmam que Menem é um "fantasma" político. Seu poder se reduz ao respaldo de um prefeito em sua própria província natal e três parlamentares. Um deles é um sobrinho; outra, uma deputada amiga. O terceiro é o próprio Menem, senador.

Menem começou a carreira política nos anos 60. Em 1973 foi eleito governador. Em 1976 o golpe militar o cassou. Em 1983, com a volta da democracia foi eleito novamente governador. Seis anos depois, em 1989, chegava à presidência da República. Em 1994 alterou a Constituição, de forma a permitir a reeleição presidencial. Um ano depois, vencia novamente nas urnas.

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Em 1999 tentou alterar novamente a Constituição, para permitir um terceiro mandato consecutivo. No entanto, a opinião pública rejeitou essa possibilidade. Nesse ano deixou a presidência, envolvido em uma série de escândalos de corrupção. Os dez anos e meio nos quais controlou a Argentina foram conhecidos como "Pizza com champanhe". Ou seja, segundo a "menemóloga" Silvina Walger, o brega tentando ser chique.

No ano 2001 foi preso durante cinco meses, acusado de contrabando de armas. No entanto, a Corte Suprema, onde tinha vários – e declarados – amigos, o absolveu. Em 2003 disputou as eleições presidenciais. Venceu o primeiro turno com 24% dos votos. No entanto, desistiu da segunda fase quando soube que as pesquisas indicavam, de forma unânime, que seu rival, Néstor Kirchner, o derrotaria com mais de 70% dos votos no segundo turno.

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Em 2005 disputou a eleição para o Senado. Na ocasião, sua província lhe deu o primeiro sinal de ausência de poder. Entre as duas vagas para senador, Menem conseguiu a segunda. O primeiro lugar foi arrebatado por um ex-discípulo, Angel Maza. De lá para cá, os vestígios de poder de Menem terminaram de esfacelar-se.