Para impedir um default e a possível saída da zona do euro, o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, precisa vender seu plano para reparar as finanças do país à chanceler da Alemanha, Angela Merkel. Então, precisa ainda persuadir Vassilis Chatzilamprou.

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Parlamentar do partido Syriza, porém, Chatzilamprou não parece disposto a ceder. Ele participou do Festival Resistência, um encontro anual da extrema-esquerda, mostrando não estar disposto a submeter-se. “Nós não podemos aceitar medidas estritas, recessivas”, advertiu Chatzilamprou. A declaração foi dada após a meia-noite do domingo, quando o festival estava acabando. “As pessoas atingiram seus limites.”

O Syriza não é um partido tradicional, mas uma coalizão de grupos de esquerda, com uma árvore genealógica complexa, formada a partir de dissidências e disputas. É a essas várias tendências, discrepantes, que Tsipras precisa também satisfazer, ao fechar um acordo com os credores.

Chatzilamprou, por exemplo, é membro da Organização Comunista da Grécia, um fruto da Organização de marxistas-leninistas da Grécia. O grupo é distinto da Tendência Comunista, que tem um viés trotskista. Nenhum deles, aliás, deve ser confundido com o Partido Comunista grego, que não está no Syriza.

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A composição pouco usual torna especialmente difícil para Tsipras fechar um acordo com a zona do euro e com o Fundo Monetário Internacional (FMI). “As pessoas responsáveis pela negociação se movem dentro da estrutura determinada pelo comitê central do partido”, afirmou Alekos Kalyvis, um sindicalista membro do comitê e responsável pelo portfólio da política econômica.

Os negociadores têm algum espaço para tomar decisões, disse ele, “mas isso não deve ser interpretado como se eles tivessem um cheque em branco do partido – nem eles nem Tspiras”.

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Muitos dos grupos do Syriza veem a ascensão do partido como um momento memorável para a esquerda – e qualquer compromisso por um acordo como uma profunda traição de seus princípios.

Outro membro do Syriza no Parlamento, Stathis Leoutsakos disse que a Alemanha e outros países credores estão determinados a derrotar o Syriza. “Na minha opinião, o objetivo deles é humilhar o governo grego”, afirmou. “Eles querem a mensagem de que não pode ser aceita nenhuma outra política na zona do euro.”

Ainda não está claro, e talvez esta seja a maior preocupação de Tsipras, é quão longe o Syriza está disposto a ir por um acordo.

Leoutsakos, sindicalista do setor de metais e há tempos ativo na política da esquerda grega, é oriundo da mesma facção de Tsipras, mas também se associou à Plataforma Esquerda, um grupo do partido que defende o abandono do euro e o retorno ao dracma. “Ruptura não é um sinônimo para catástrofe, como tem sido apresentado”, afirmou Leoutsakos.

Tampouco está certo exatamente que tipo de acordo pode ser aceitável para o grupo mais à esquerda do Syriza. O argumento do partido é que a austeridade fiscal – fortes cortes no orçamento e altas nos impostos – piorou a recessão econômica. Esse argumento tem sido central no sucesso de público do Syriza.

A maioria do grupo mais à esquerda rejeita qualquer corte adicional em pensões e salários, dizendo que os trabalhadores gregos já sofreram o suficiente, com os anos de recessão desde o primeiro pacote de ajuda à Grécia.

Leoutsakos, como outros mais à esquerda, também insiste que pelo menos parte da dívida deve ser perdoada.

Há ainda a questão sobre o futuro de Tsipras como primeiro-ministro, caso ele chegue a um compromisso. Ninguém está esquecendo o destino dos ex-premiês George Papandreou e Antonis Samaras. Ambos fecharam acordos com a Europa, e ambos perderam seus empregos, com o partido de Papandreou sendo praticamente destruído.

Recuar em seus princípios de esquerda “seria um suicídio político para Tsipras”, disse Chatzilamprou. “Isso significaria que ele também é reciclável: eles poderiam substituí-lo por outra pessoa.”

O técnico autônomo Periklis Koumpouris disse que relutantemente desistiu de apoiar outro doloroso pacote de ajuda à Grécia. Se houver um, ele virá a um custo político, avalia. “Isso provavelmente significará que o Syriza irá desaparecer, no longo prazo.” Fonte: Dow Jones Newswires.