Foto: Lucimar do Carmo

Eros: ?Em seres humanos, as videolaparoscopias começaram a ser feitas na década de 60?.

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Os constantes avanços tecnológicos na área da medicina não beneficiam apenas os seres humanos. Nos últimos anos, os estabelecimentos que prestam atendimento veterinário têm disponibilizado a animais de grande e pequeno portes tratamentos e métodos de diagnóstico cada vez mais modernos, precisos e eficientes. Muitos destes recursos são iguais ou parecidos aos utilizados em pessoas.

Em Curitiba, o recém-inaugurado Hospital Veterinário Batel, localizado no bairro de mesmo nome, é o primeiro serviço veterinário privado do Paraná a ter um equipamento de videolaparoscopia para animais. O aparelho é considerado bastante avançado, mas ainda não é utilizado como prática comum dentro da medicina veterinária brasileira.

?Em seres humanos, as primeiras videolaparoscopias começaram a ser feitas no início da década de sessenta, tornando-se comuns no final da década de oitenta. Em animais, elas passaram a ser realizadas a partir de 1991, chegando ao Brasil em 1996. Porém, acredito que só daqui a uns dez anos o equipamento vá se tornar um recurso comum da veterinária, pois seus custos de utilização ainda são bastante altos?, diz o médico veterinário e diretor do Hospital Batel, Eros Luiz de Sousa.

A videolaparoscopia elimina os grandes cortes inerentes aos procedimentos cirúrgicos. Quando o equipamento é utilizado, são feitas de três a cinco pequenas incisões (de cerca de um centímetro cada uma) no abdômem do paciente. Através delas, são inseridos equipamentos cirúrgicos e uma câmera de vídeo de 5 mm. As imagens captadas por esta são transmitidas de forma ampliada a um monitor de TV, permitindo que os veterinários identifiquem os problemas e realizem os procedimentos necessários.

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?Os procedimentos feitos através do equipamento costumam ser mais demorados e um pouco mais caros, pois além de pagarem o preço da cirurgia, os donos de animais devem custear uma taxa de vídeo (no Batel, esta taxa é de R$ 250). Porém, a videolaparoscopia é muito mais segura. Não gera fontes de infecção, diminui os sangramentos, reduz em até 80% as complicações de pós-operatório e faz com que a recuperação seja mais rápida.?

A videolaparoscopia pode ser utilizada em todos os animais, sendo aplicada para inseminações artificiais, retirada de cistos de ovário, esterilizações, retirada de rins (nefrectomia), de cálculos da bexiga, entre outros tipos de atendimentos. Como método de diagnóstico, é capaz de identificar doenças de tórax e abdômem, permitindo a visualização de imagens reais de nódulos e tumores.

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Além do estabelecimento da capital paranaense, disponibilizam a videolaparoscopia hospitais veterinários privados ou universitários do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte (MG) e Passo Fundo (RS). No hospital Batel, de janeiro até a metade do mês de abril, foram realizadas quinze cirurgias com utilização do aparelho.

Tecnologia ajuda saúde do animal

Além da videolaparoscopia e da cirurgia de catarata por facoemulsificação, existem diversos avanços em outras áreas. Assim como os pacientes humanos, os animais contam com tomografia, que possibilita imagens precisas de todo o corpo; ressonância magnética, para identificação de problemas de coluna e tumores; quimioterapia, para tratamento de câncer; entre outras coisas.

Na área da ortopedia, existem bancos de ossos de animais (semelhantes ao banco de ossos humano mantido pelo Hospital de Clínicas da UFPR) que conservam parte da estrutura óssea de cães e gatos já falecidos. Os ossos são utilizados para enxertos e em casos de fratura de fêmur e coluna.

?Quase tudo que existe na medicina humana existe na animal, proporcionando muito mais qualidade de vida aos bichos?, declara João Alfredo Kleiner. ?Acho que a única coisa que ainda não é rotina na veterinária, mas que logo será, são os transplantes de órgãos. Estes, em animais, ainda não apresentam os mesmos resultados do que em seres humanos. Uma pessoa que passa por um transplante renal, por exemplo, pode sobreviver vários anos. Já um gato que passa pela cirurgia geralmente não passa de dois anos.?

Hospital mostra avanços na área de cirurgia de catarata

Na oftalmologia, o Hospital Veterinário São Bernardo, que fica no Cabral, também em Curitiba, vem apresentando avanços na área da cirurgia de catarata (patologia que consiste na opacidade total ou parcial do cristalino do olho). No local, é oferecida uma técnica que permite que os cães atingidos pela doença recuperem quase que completamente a visão.

?Nossa cirurgia é feita através de facoemulsificação. Tiramos normalmente a parte branca que gera a opacidade e que não permite que a luz atinja a retina, impedindo o animal de enxergar. Porém, na seqüência, introduzimos uma lente dentro do cristalino. Esta melhora incrivelmente a qualidade da imagem, possibilitando que o paciente volte novamente a perceber detalhes das imagens enxergadas?, explica o veterinário responsável pelo São Bernardo, João Alfredo Kleiner.

A lente é de acrílico e importada da França, sendo que o hospital curitibano é um dos únicos do Brasil a utilizá-la. Ela é introduzida dobrada dentro do olho, mas ao ser acomodada no cristalino acaba se abrindo. Cada lente custa R$ 500. Para cirurgia nos dois olhos, são gastos R$ 1 mil. Entretanto, muitos proprietários optam por utilizar o objeto devido ao conforto e aos benefícios que ele gera aos bichinhos.

?A cirurgia com colocação da lente é feita em um olho de cada vez, o que minimiza riscos e o desconforto gerado aos pacientes. O procedimento dura de trinta a quarenta minutos, sendo que quanto mais avançada a catarata mais demorado fica. Tudo é feito com anestesia geral.? Antes de ir para a mesa de cirurgia, o animal precisa ser submetido a uma bateria de exames, o que também evita riscos e contribui para que tudo saia bem.

Os veterinários que realizam o procedimento precisam passar por treinamento específico. João Alfredo começou a estudar a técnica há cerca de nove anos e passou por um curso nos Estados Unidos. No Hospital São Bernardo, a cirurgia por facoemulsificação é realizada há dois anos. Neste período, já foram feitas cerca de 120 operações.