A missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) trombou ontem com a intransigência do presidente de facto de Honduras, Roberto Micheletti, apenas seis horas após a abertura da negociação de uma solução para a crise no país. Entrincheirado em suas posições originais, Micheletti se desfez com arrogância da pressão dos chanceleres e representantes de 13 países da OEA e do secretário-geral da entidade, José Miguel Insulza, pela restituição do presidente deposto Manuel Zelaya ao poder, como prevê o Acordo de San José.
O presidente de facto disse a Insulza que seus três representantes na mesa de negociação terão plenos poderes para atuar em seu nome. Mas insistiu que qualquer decisão final terá de estar coberta pela Constituição e pelas suas leis do país – fato que impede o retorno de Zelaya à presidência – e “suplicou” pelo reconhecimento internacional da legitimidade das próximas eleições presidenciais. Micheletti ainda reiterou sua fórmula de renúncia dupla – dele e de Zelaya – em favor de um terceiro nome, como saída para a crise.
Micheletti adotou um tom de confrontação ao ouvir a missão da OEA, que desembarcou na manhã de ontem com a perspectiva de impulsionar a negociação dos dois pontos nevrálgicos do Acordo de San José: o retorno de Zelaya à presidência e a anistia política aos dois lados. O governo de facto deixou claro que não aceita o primeiro tópico. Zelaya aceitou até mesmo a limitação de seus poderes de presidente. Mas ainda exige uma ampliação da anistia, para envolver também os crimes comuns que lhes são imputados.
De acordo com Micheletti, a decisão final sobre esse tema não compete ao Executivo, mas ao Congresso e à Corte Suprema. Para representantes da OEA, as Forças Armadas podem ser um terceiro empecilho à aplicação de um acordo final.