Em um esforço para mostrar que está se comunicando com a população a respeito dos termos para a retirada e a relação futura do Reino Unido com a União Europeia após o Brexit, a primeira-ministra britânica, Theresa May, participou de mais uma transmissão de rádio respondendo a perguntas de ouvintes. Nesta sexta-feira, afirmou que se o acordo e a declaração de intenções passarem pelo crivo do Conselho Europeu em dois dias mas, depois, forem rejeitados no Parlamento, Londres voltará “à estaca zero” nas tratativas com Bruxelas.

continua após a publicidade

Essa hipótese, ela disse, acabaria em “mais incerteza e mais divisão”. “Se voltássemos à UE e disséssemos que ‘as pessoas não gostaram desse acordo [no Parlamento], podemos ter outro?’, não acho que eles virão a nós e dirão ‘daremos a vocês um acordo melhor'”, comentou a conservadora no estúdio da rádio BBC 5.

continua após a publicidade

No entanto, quando questionada pela apresentadora Emma Barnett sobre se havia um plano B do governo para uma derrota no Legislativo, May se esquivou e limitou-se a dizer que está trabalhando para assegurar que o acordo nos atuais termos passará pelo Parlamento.

continua após a publicidade

Um dos ouvintes perguntou à primeira-ministra sobre o porquê de a hipótese de não haver qualquer Brexit passou a figurar no seu vocabulário. “Pessoalmente, nenhum Brexit não é uma das minhas opções, [mas] é uma das coisas que estou tentando apontar para as pessoas, que, se você escutar os debates na Câmara dos Comuns, há MPs [membros do Parlamento] que querem frustrar o Brexit e parar o Brexit”, ela explicou. “Quero assegurar que aquelas pessoas que estão tentando frustrar o que as pessoas votaram não sejam capazes de fazê-lo.”

Gibraltar.

Nos últimos dias, têm gerado incerteza sobre a sobrevivência do acordo sobre a relação futura do Reino Unido com a União Europeia no Conselho Europeu do próximo domingo as sinalizações do governo da Espanha de que votará contra a sua aprovação se não estiver prevista uma solução para o status de Gibraltar, um território britânico ultramarino no extremo sul da Península Ibérica.

Apesar dos temores, May argumentou que quando negocia com Bruxelas, faz isso “em nome de toda a família do Reino Unido, incluindo Gibraltar”. “Nossa posição sobre Gibraltar e a soberania [britânica] não mudou.” Ela acrescentou vagamente, contudo, que está “trabalhando” com os governos de Gibraltar e da Espanha “para colocar em vigor medidas que se relacionam a Gibraltar”.

Renúncia.

May evitou a todo custo dar uma resposta direta sobre se renunciaria ao cargo num cenário em que o acordo que ela negociou com a União Europeia seja rejeitado no Parlamento britânico.

Repetidamente pressionada, a conservadora disse apenas não estar pensando em si mesma, mas, sim, nos interesses nacionais.

Uma apoiadora da permanência na União Europeia na época da consulta popular sobre o Brexit, em 2016, May também desconversou quando um ouvinte perguntou se ela achava melhores os atuais termos negociados com Bruxelas ou as condições do Reino Unido como integrante do bloco. “Olhe, não é sobre estarmos melhores dentro ou fora da União Europeia, é que será diferente”, comentou. Depois da insistência da radialista e do autor da questão por uma resposta direta, a premiê disse crer que “os melhores dias” do Reino Unido “estão à frente”, após o divórcio.

39 bilhões de libras.

Outro tema de questionamento foi o pagamento de 39 bilhões de libras de Londres a Bruxelas a título de “liquidação financeira”. May defendeu esse ponto do acordo, dizendo que, inicialmente, falava-se em um dispêndio de até 100 bilhões de libras, e que parte desse desembolso permite ao Reino Unido ter o período de transição e, assim, evitar uma situação de “beira do abismo” para empresas na separação.

Ela admitiu, no entanto, que parte da quantia será adiantada à União Europeia e uma outra parcela será desembolsada “ao longo dos próximos anos”. Se não houver um trato consolidado para a relação futura das duas partes ao fim do período de implementação e a solução emergencial para evitar uma fronteira irlandesa dura tiver de ser acionada, explicou a conservadora, o pagamento será interrompido. “Se entrarmos na extensão do período de implementação, a UE pedirá mais contribuições financeiras”, reconheceu.