Cientistas encontraram na Espanha um fóssil surpreendentemente bem preservado de um mamífero de 125 milhões de anos. Até agora, não havia registro de fósseis de mamíferos com órgãos internos, pelos e pele conservados com mais de 60 milhões de anos.
O novo espécime, batizado de Spinolestes xenarthrosus, tinha uma pelagem espinhosa e, embora não tenha ligação com nenhum dos grupos de mamíferos modernos, tinha características que lembram os dos ratos e os porcos-espinho.
Segundo o estudo, publicado nesta quarta, 14, na revista Nature, o Spinolestes possuía espinhos microscópicos nas costas e, com a excepcional preservação do fóssil, foi possível concluir que o animal tinha uma infecção por fungos em seus pelos.
O estudo foi feito por cientistas da Universidade Autônoma de Madri, na Espanha, da Universidade de Bonn, na Alemanha e da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.
“O Spinolestes é um achado espetacular. É assombroso ver, em um fóssil tão antigo, a pele quase perfeitamente preservada e as estruturas de pelos fossilizados em detalhes microscópicos. Esse animal do período Cretáceo apresenta toda a diversidade estrutural dos pelos e pele encontrada nos mamíferos modernos”, disse um dos autores do artigo, Zhe-Xi Luo, da Universidade de Chicago.
O fóssil foi encontrado no sítio de Las Hoyas, na região de Cuenca, no centro-leste da Espanha. No período Cretáceo, há cerca de 125 milhões de anos, o local foi uma área alagada com uma enorme diversidade de vida. Desde 1985 paleontólogos espanhóis estudam o sítio, onde já foram encontradas centenas de fósseis, incluindo importantes aves e dinossauros. Em 2011, o primeiro fóssil de mamífero foi descoberto no local.
O Spinolestes pertencia à linhagem extinta de mamíferos primitivos conhecidos como tricodontes. O espécime tinha aproximadamente 24 centímetros de comprimento e os pesquisadores estimam que ele pesava de 50 a 70 gramas – o tamanho de um filhote de rato moderno.
Os dentes e as características do esqueleto, segundo os cientistas, indicam que o Spinolestes se alimentava de insetos no solo. Os tecidos de seu corpo, com estruturas microscópicas ainda visíveis, foram preservados graças a um raro processo conhecido como fossilização fosfática. Com o uso de microscopia eletrônica, os pesquisadores puderam identificar individualmente os folículos e bulbos dos pelos, assim como a composição de cada pelo.
A pele do animal possuía folículos complexos, como os dos mamíferos modernos, de onde emergiam múltiplos pelos a partir de cada poro. Nas costas, o animal possuía pequenos espinhos de um décimo de milímetro. Os cientistas encontraram alguns pelos truncados de forma anômala, indicando que o animal tinha na pele uma infecção por fungos conhecida como dermatofitose, que é amplamente encontrada nos mamíferos atuais.
“O fóssil mostra que essa linhagem ancestral, há muito tempo extinta, possuía essas estruturas exatamente iguais às dos mamíferos modernos. O Spinolestes nos dá uma revelação espetacular sobre esse aspecto central da biologia dos mamíferos. Com ele, temos evidências conclusivas de que muitas das características fundamentais dos mamíferos já estavam bem estabelecidas há 125 milhões de anos, na era dos dinossauros”, disse Luo.
De acordo com outro dos autores, Thomas Martin, da Universidade de Bonn, o Spinolestes não pode ser classificado em nenhum dos grupos de mamíferos hoje existentes.
“Ele apresenta características que também encontramos nos mamíferos de hoje. No entanto, isso não é sinal de que exista parentesco. É mais um sinal de que eles evoluíram de forma independente – no curso da evolução, os mamíferos foram ‘inventados’ várias vezes”, disse Martin.