Milhares de pessoas -35 mil, segundo a polícia- participaram de protestos hoje (26) em Atenas contra os novas medidas de austeridade que estão sendo planejadas pelo governo grego e a troika (os credores do país, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional). Os principais sindicatos da Grécia também convocaram para hoje uma greve geral de 24h.
Ainda que os protestos tenham começado de forma pacífica, já existem relatos de enfrentamentos entre policiais e pequenos grupos, com o uso de bombas de gás lacrimogênio, coquetéis molotov e pedras. Segundo a polícia, 105 pessoas foram presas. Três manifestantes foram levados a hospitais e oito policiais ficaram feridos.
Segundo os organizadores dos protestos e da greve, a paralisação teve adesão maciça da população. A GSEE, que reúne trabalhadores do setor privado, informou que 100% dos funcionários que trabalham em estaleiros, transporte marítimo e refinaria estão paralisados, assim como 90% dos portuários e da construção civil, 85% da indústria siderúrgica e 80% do setor de hotelaria, comércio, bancos e empresas públicas.
Pela primeira vez, pequenos comerciantes também aderiram à greve geral. Eles fecharam as portas na parte da tarde para protestar contra os cortes salariais e o aumento de impostos que reduziram drasticamente o consumo no país.
Segundo Yorgos Kavvazas, presidente da Confederação Nacional de Pequenos Empresários (GSEVE), nos últimos dois anos 160 mil empresas declararam falência e o volume de negócios diminuiu drasticamente.
Para Kavvazas, com novas medidas de austeridade, outras 120 mil empresas fechariam as portas, provocando a perda de 200 mil postos de trabalho.
Segundo números oficiais, 25% dos gregos atualmente estão desempregados, uma das maiores cifras da Europa.
Crise
A economia grega depende da ajuda internacional dos demais países europeus e do FMI (Fundo Monetário Internacional) desde meados de 2010. Sem esses empréstimos, a Grécia fatalmente seria forçada a suspender o pagamento de suas dívidas, levando a nação a sair da União Europeia.
Os credores cobram mais reformas fiscais para continuar financiando o país. O próximo repasse de recursos -de 31 bilhões de euros (quase US$ 40 bilhões)- está condicionado ao compromisso do governo em novos cortes de gastos.
Por enquanto, a troika e a Grécia concordaram sobre onde acontecerá cortes de 9,5 bilhões de euros (R$ 25 bilhões) de um total de 11,5 bilhões de euros (R$ 30 bilhões) necessários. Dentre as reduções, 6,5 bilhões de euros (R$ 17 bilhões) virão de cortes de salários, aposentadorias e benefícios sociais.
Outros 1,1 bilhão de euros (R$ 3 bilhões) serão economizados a partir do aumento da idade mínima de aposentadoria (que subiu de 65 para 67 anos).
Mais 1,9 bilhão de euros (R$ 5 bilhões) virão na forma de dinheiro poupado em medidas de modernização que foram aprovadas pela troika. Os últimos 2 bilhões de euros (R$ 5 bilhões) deveriam vir de economias no setor de saúde, defesa e dos governos locais.
Hoje, o ministro da Finanças grego, Yannis Stournaras, e o primeiro-ministro, Antonis Samara, elaboraram uma proposta de cortes que deve ser apresentada na quinta à coalizão do governo. Entre os funcionários públicos que terão seus salários mais afetados pelas novas medidas estão os professores universitários, os médicos, os juízes e as forças de segurança.
“Nos últimos dois anos, nosso salário diminuiu 40% e a porcentagem do PIB destinada à saúde foi de 1,6% para 0,6%”, lamentou o médico Kostas Livados.
“Temos que continuar lutando contra a plutocracia, eles estão resgatando os bancos e não fazem nada por nós”, disse um jovem pesquisador da Universidade Politécnica, Kostas Papadópulos.