Nove dias depois do terremoto que destruiu Porto Príncipe, os haitianos estão enterrando e queimando até 10 mil corpos por dia em covas coletivas abertas em barrancos nos arredores da capital. A Comissão Europeia estima que pelo menos 80 mil corpos estejam em covas coletivas. A medida contraria a orientação das organizações humanitárias, que pedem que os cadáveres sejam minimamente catalogados, uma vez que corpos de vítimas sadias não transmitem epidemias, mesmo em decomposição.

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“Eu vi tanta, mas tanta criança, que não posso dormir de noite. E, se durmo, tenho pesadelos o tempo todo”, disse Foultone Fequiert, de 38 anos, que trabalha enterrando corpos num aterro de Titanyen, ao norte da capital. “Eu recebi 10 mil cadáveres só ontem”, disse Fequiert com o rosto coberto por uma camiseta na tentativa de amenizar o mau cheiro.

Os trabalhadores encarregados dos enterros em massa dizem não ter tempo para cumprir rituais religiosos nem para deixar os corpos em covas que possam ser localizadas por parentes mais tarde. “Nós só empurramos para dentro e tampamos”, disse Luckner Clerzier, que ajuda a guiar os caminhões que chegam aos aterros coletivos com cada vez mais cadáveres.

Um correspondente da agência de notícias Associated Press contou 15 covas em um bairro de Porto Príncipe, a maioria com 8 metros de profundidade. Na maior delas, três máquinas revezavam-se nas escavações, preparando o local para a chegada de novos corpos.

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