Mais de 120 homens foram presos na África do Sul ao longo da última semana após o estupro coletivo de oito mulheres na cidade de Krugersdorp, a oeste de Joanesburgo. O crime foi estopim para manifestações nas ruas e reacendeu o debate sobre altos índices de violência de gênero no país.

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O estupro ocorreu na última quinta (28), quando homens armados invadiram um local de gravação de videoclipes e estupraram as mulheres. Dados oficiais mostram que, nos três primeiros meses do ano, ao menos 10,8 mil casos de estupro foram denunciados, o que representa um aumento de quase 14% em relação ao mesmo período de 2021.

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Embora as prisões estejam sendo conectadas ao episódio, os homens detidos não são acusados de violência sexual ou estupro, mas de terem entrado ilegalmente na África do Sul e estarem em posse de bens roubados. Isso porque a polícia trabalha com a hipótese de que o crime tenha sido cometido por imigrantes que trabalham em minas da região.

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O ataque ocorreu em uma mina abandonada em Krugersdorp, onde 12 mulheres foram atacadas por um grupo de homens quando participavam de uma filmagem com uma equipe de vídeo. Os suspeitos teriam ordenado que todos se deitassem e, então, roubaram pertences e estupraram oito das mulheres antes de fugir do local.

As primeiras operações foram feitas na sexta e no sábado e prenderam 84 pessoas. Fontes da polícia disseram que dois suspeitos foram mortos em confronto e um terceiro ficou ferido. Novas prisões nesta terça-feira (2) elevaram o número total de detidos para mais de 120.

Segundo relato do jornal britânico Guardian, as ações policiais recentes mais pareciam uma repressão em resposta às alegações de criminalidade da população do que um trabalho especificamente ligado ao estupro coletivo.

Moradores atribuem boa parte da violência vivida no país aos chamados Zama-Zamas, que são trabalhadores –geralmente de países como Moçambique e Zimbábue– que entram na África do Sul ilegalmente para tentar ganhar a vida em minas de ouro abandonadas.

Zama significa “tentar” no idioma Zulu, que é uma das 11 línguas oficiais da África do Sul. Em português, a expressão seria algo como “tente-tente”, numa alusão ao esforço de achar algo precioso nas minas.

O ouro encontrado precisa ser vendido no mercado ilegal, o que rende pouco dinheiro. Por isso, os zama-zamas costumam viver em condições precárias, perto das áreas onde trabalham. Para parte da população local, eles são culpados por crimes como assaltos e violência sexual, enquanto grupos de direitos humanos afirmam que os imigrantes são alvo de xenofobia.

Nas operações feitas pela polícia na sexta e o no sábado, mais de 80 zama-zamas foram presos. Na segunda, eles compareceram a um tribunal em Krugersdorp, quando se descobriu que cerca de 20 eram menores de idade e deveriam ser julgados pelo sistema de Justiça infantil.

A polícia diz estar investigando a participação dos trabalhadores no estupro coletivo e espera que, nos próximos dias, testes de DNA permitam conectar alguns dos detidos com o crime.

Revolta

Além das manifestações nas ruas, o crime da última quinta-feira reascendeu um clima de insatisfação com a violência e alimentou um debate em curso na África do Sul sobre castração química para estupradores. O cenário também pressiona o governo sobre as condições da polícia para combater a criminalidade no país, que tem uma das maiores taxas de homicídio do mundo.

Na segunda, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, pediu que as comunidades trabalhem junto com as autoridades para ajudar a encontrar os estupradores. “Esses atos horríveis de brutalidade são uma afronta ao direito de mulheres e meninas de viver e trabalhar em liberdade e segurança”, afirmou.

Em Krugersdorp, há queixas de que a polícia não faz o suficiente para proteger mulheres e meninas do crime.

“Apenas 8,6% dos casos de estupro na África do Sul resultam em condenação. O sistema de justiça é altamente ineficiente e muitas vezes há falta de investigações adequadas, atraso ou nenhuma prisão para os autores de violência de gênero”, disse Thandiwe McCloy, da ONG Powa (pessoas que se opõem ao abuso de mulheres, na sigla em inglês), ao jornal Guardian.

Segundo ela, a enorme lista de pendências de exames de DNA resulta em casos que levam muito tempo para serem finalizados e julgados.