Duas das maiores milícias da Líbia têm mantido uma trégua pragmática enquanto tentam combater o avanço do grupo radical Estado Islâmico. O cessar-fogo ocorre principalmente no oeste do país, onde os grupo travavam uma batalha feroz desde o ano passado.
As duas milícias, nascidas nas cidades de Misrata e Zintan, concordaram com a trégua e grandes confrontos não são mais registrados desde junho. Elas tentam barrar o avanço do Estado Islâmico em direção ao oeste, a partir da cidade litorânea de Sirte. O resultado da trégua entre as duas partes deve ajudar a decidir o destino do país, que é rico em petróleo e vive uma turbulência desde a queda do ditador Muamar Kadafi, em 2011.
Os combatentes de Zintan defendem um governo secular, apoiado por potências do Ocidente e com base na cidade de Tobruk. Já a milícia de Misrata luta por um governo islâmico, sediado na atual capital do país, Trípoli. A ONU tenta negociar uma coalizão entre os dois lados desde janeiro, mas foi a ameaça do Estado Islâmico em Sirte, terra natal de Kadafi, que acabou levando as milícias rivais a trabalharem juntas.
Os líderes da milícia de Misrata conhecida como Amanhecer da Líbia, que é bem equipada e tem grande influência no oeste do país, têm promovido a trégua, convencendo pequenos grupos aliados e também negociando com os combatentes de Zintan.
Quando o Estado Islâmico anunciou formalmente sua presença em Sirte este ano, as milícias de Misrata cercaram a cidade, mas acabaram sendo forçadas a recuar. O grupo então admitiu que não tinha condições de enfrentar dois inimigos em frentes de batalha diferentes. Após negociações com as milícias de Zintan, os dois lados concordaram em retirar soldados dos pontos de conflito e se reagrupar, individualmente, para enfrentar o Estado Islâmico.
“Eles (o Estado Islâmico) são como um câncer. Se você não resolve no começo, eles crescem e se tornam mais difíceis de remover”, afirmou Ismael Shukri, um oficial de inteligência de Misrata. Jilani Dahesh, um comandante de Zintan, disse que a aliança é simplesmente para enfrentar os terroristas. “Para vencer grupos extremistas como o Estado Islâmico, precisamos de acordos sólidos. A maior ameaça que a Líbia enfrenta atualmente é o vácuo político que a deixou com vários governos”, afirmou.
Enquanto isso, a Líbia se tornou um dos maiores pontos de partida de refugiados da África e do Oriente Médio que tentam chegar à Europa. Somente em agosto, quase 700 pessoas morreram ao tentar cruzar o Mar Mediterrâneo saindo do país. No ano, o número de vítimas já chega a 2,7 mil, segundo a Organização Internacional de Migração.
O chefe da missão da ONU na Líbia, Bernardino Leon, disse ao Conselho de Segurança no fim de agosto que comunidades locais no oeste do país estão cada vez mais promovendo o cessar-fogo e iniciativas de reconciliação entre cidades, contribuindo para uma queda significativa nas tensões militares na região e também na área metropolitana de Trípoli. Fonte: Dow Jones Newswires.