Nicolás Maduro foi declarado neste domingo, 20, vencedor de uma votação presidencial em que 46% dos eleitores participaram, em meio a denúncias de abuso de poder e compra de votos. O principal opositor, Henri Falcón, não reconheceu o resultado, disse que a eleição não existiu e pediu uma nova votação. Com 92% das urnas apuradas, Maduro tinha 5,8 milhões de votos (68%). Falcón obtinha 1,8 milhão (21%). O término do mandato está previsto para 2025.

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“Nunca antes um candidato havia ganho com 68% dos votos. Nocaute”, foram algumas das primeiras de palavra do presidente, que criticou as denúncias de Falcón, mas ofereceu um governo de unidade.

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Falcón havia afirmado, antes da divulgação dos resultados, que não reconhecia o processo eleitoral como válido. “Não houve eleições, é necessária uma nova votação”, afirmou, dizendo-se disposto a concorrer novamente em dezembro, data prevista até a antecipação do processo por Maduro. O boicote convocado por opositores impedidos de concorrer e a menor afluência de chavistas levaram à baixa participação. Na última votação presidencial, ela foi de 79%.

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Falcón denunciou mais de 900 irregularidades. Reclamou da presença de postos de informação e controle chavistas a menos de 200 metros dos locais de votação. Também questionou o pagamento prometido pelo chavismo aos que registrassem seu voto nesses pontos por meio da “carteira da pátria”, um sistema de identificação paralelo criado pelo chavismo para monitorar, e assim estimular, a participação de seu eleitorado a base de gratificações. O registro tem 16 milhões de pessoas.

“Prometeram 10 milhões de bolívares (US$ 12, pela cotação do mercado negro, 4 vezes o salário mínimo) a quem registrar seu votos nos ‘pontos vermelhos’. Não podemos vender nossa dignidade”, reclamou Falcón. Outro opositor, Javier Bertucci, que obteve 925 mil votos, fez denúncias semelhantes.

O presidente antecipou o processo eleitoral, previsto para o fim do ano, aproveitando um momento em que os principais líderes antichavistas estão impedidos de concorrer. Os opositores então boicotaram a eleição, não reconhecida por parte da comunidade internacional.

O chavismo controla o Conselho Nacional Eleitoral, o Judiciário e o Legislativo, que teve funções tomadas por uma Assembleia Constituinte criada no ano passado. Protestos contra o avanço chavista sobre o Congresso resultaram em pelo menos 121 mortes. Maduro enfrenta hiperinflação, projetada em 13.800% pelo FMI para este ano. O desabastecimento nos supermercados foi controlado antes da votação, mas o salário mínimo é insuficiente para comprar um quilo de carne (US$ 3).

“A culpa não é do governo. Com o chavismo conseguimos coisas que os anteriores nunca nos deram. Chegamos a comer comida de cachorro antes”, disse o aposentado Félix Urdaneta, portador da “carteira da pátria”.

Entre os opositores que preferiram não ir às urnas, o objetivo principal era inflar a abstenção para contestar a legitimidade de Maduro. “Parece uma estratégia burra”, resumiu o comerciante Oswaldo Morales, opositor com boa relação com os chavistas na região de favelas do Petare. Segundo ele, se a participação fosse massiva e ainda assim a vitória fosse de Maduro, seria mais fácil denunciar fraude. Ele fez a “carteira da pátria” e diz nunca ter recebido gratificações. Possivelmente, por se negar a registrar o voto nos “pontos vermelhos”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.