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Mácron cede mais e cancela imposto sobre combustível para evitar novos protestos

O governo francês decidiu nesta quarta-feira, 5, abandonar o imposto sobre combustível que previamente tinha sido suspenso por seis meses após reivindicação dos protestos nas ruas do país, que ganham novas adesões a cada dia. O premiê francês, Edouard Philippe, comunicou aos parlamentares a decisão do presidente Emmanuel Macron de retirar a previsão de aumento do orçamento de 2019 para tentar o diálogo com os manifestantes.

O premiê não deixou claro se o reajuste poderia ser adicionado eventualmente em uma emenda ao orçamento durante o ano que vem. A concessão custará € 2 bilhões (cerca de R$ 8,7 bilhões) aos cofres públicos.

O presidente também congelou as discussões que teria sobre reajustes dos preços de alimentos, mas nada parecia aplacar o ímpeto da mobilização. Sindicatos de produtores rurais e caminhoneiros anunciaram adesão à ela.

Os protestos dos “coletes amarelos” começaram como resposta a um plano do governo de elevar taxas de combustível para desestimular o uso de carros e fazer uma transição para energia limpa. O porta-voz do governo, Benjamin Griveaux, deixou aberta hoje a porta para um possível restabelecimento do Imposto sobre Fortuna (ISF), uma das reivindicações mais frequentes dos manifestantes.

Nos últimos dias, o movimento tornou-se mais heterogêneo. Estudantes colocaram fogo em colégios para protestar contra o novo sistema de seleção para as universidades; pequenos comerciantes bloquearam estradas contra os altos impostos; pensionistas foram para as ruas contra o que chamaram de elitismo do presidente. Nas últimas adesões, o maior sindicato de agricultores da França anunciou atos para a próxima semana depois que o sindicato dos caminhoneiros conclamou a categoria para uma grande greve a partir de domingo.

Os sindicatos na França não vinham, até então, desempenhando um papel importante do movimento espontâneo, mas agora tentam capitalizar o crescente descontentamento popular. Em um comunicado conjunto, dois sindicatos de caminhoneiros instaram esses profissionais a iniciar na noite de domingo um protesto contra um corte nos pagamentos das horas extras e pediram uma reunião urgente com o ministro dos Transportes.

O sindicato dos agricultores FNSEA disse que lutará para ajudar os produtores rurais a melhorar seus rendimentos, ainda que não oficialmente participe do movimento “coletes amarelos”, que leva esse nome em referência aos coletes que os motoristas são obrigados a manter em seus carros.

A polícia francesa liberou a maioria dos depósitos de combustível que os manifestantes haviam bloqueado, mas em grande parte da França ainda faltava o produto nas bombas.

Manifestantes também tomaram cabines de pedágio nas estradas do país, permitindo que motoristas passassem sem pagar, para pressionar por demandas que vão do aumento de salários e pensões à dissolução da Assembleia Nacional, o Parlamento francês.

Na Universidade Tolbiac, centro de Paris, estudantes tomaram o prédio e as aulas foram canceladas. “Nós precisamos de impostos, o problema é que eles não são propriamente redistribuídos”, disse o manifestante Thomas Tricottet à TV BFM. “Obviamente, nós temos de lutar contra isso.”

Um estudante foi ferido durante os protestos em frente a uma escola em Saint-Jean-de-Braye, no norte da França. Segundo a TV BFM, ele foi atingido na cabeça por uma bala de borracha, o que não foi confirmado imediatamente por autoridades.

Vários colégios de Ensino Médio estavam bloqueados ontem, pelo terceiro dia consecutivo, em uma mobilização contra a reforma educacional do governo. A associação de estudantes secundaristas FIDL pediu um ato “amplo e geral” para hoje e exigiu a renúncia do ministro da Educação.

Éric Drouet, um porta-voz dos “coletes amarelos”, convocou os franceses a se reunirem no sábado perto de pontos importantes da capital francesa como a Avenida Champs-Élysées, Arco do Triunfo, ou Palácio da Concórdia ou em frente à Assembleia Nacional.

Recluso

Acusado pelos manifestantes de ser o “presidente dos ricos” e um estranho para os trabalhadores, as ações de Macron têm feito pouco para mudar essa percepção desde que ele retornou de uma viagem para a Argentina, no fim de semana, onde participou da cúpula do G-20.

Ele tem se recusado a falar publicamente sobre os protestos e permanecido a maior parte do tempo na residência oficial. Na noite de terça-feira, ele foi vaiado ao visitar um prédio do governo que foi destruído por manifestantes no fim de semana.

Um dos líderes dos protestos, Christophe Chalencon, disse ontem temer que haja mais mortes se os protestos de sábado forem adiante e pediu que Macron se manifeste. Os atos das últimas três semanas deixaram 4 mortos e mais de 400 feridos. Segundo Chalencon, Macron precisa admitir que cometeu um erro. Ontem, apenas o porta-voz do presidente falou, pedindo calma aos envolvidos.

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